2 a 1. Por esse placar, Gana derrotou os Estados Unidos nas últimas duas Copas do Mundo Fifa. Seja com gol na prorrogação ou cobrança de pênalti, enfrentar os norte-americanos foi sinônimo de classificação em ambas as oportunidades. Nesta segunda-feira, as duas seleções tornam a se confrontar num jogo de Copa, em Natal, às 19h, pelo grupo G.

Em uma das chaves mais complicadas do torneio, este primeiro jogo é essencial para cada um dos times, e o meia Michael Bradley, dos Estados Unidos, sabe bem disso. "O primeiro jogo é muito importante. Estatisticamente, uma vitória eleva muito suas chances de classificação. Não é segredo que nosso foco está todo em Gana", revelou.

Não é de se espantar que essa partia receba tamanha atenção por parte dos jogadores das duas equipes. Com Alemanha e Portugal pela fente, uma vitória na estreia significa "poder perder" para uma das temidas seleções, que se enfrentarão horas antes na Arena Fonte Nova, em Salvador. Em ambas as partidas, a diferença física entre as seleções pode ser acentuada pelas condições extremas impostas pelo clima. Nos últimos dias, uma chuva muito forte inundou a capital do Rio Grande do Norte, por exemplo. O tempo, se úmido e quente, pode diminuir o ritmo das equipes. Portanto, o time que conseguir se manter inteiro até o final do jogo deve ter uma boa vantagem.

Com um ataque perigoso, Gana quer começar bem para ir ainda mais longe dessa vez

Apontada por muitos como a melhor equipe africana no torneio, a seleção de Gana reúne um elenco com jogadores de bastante técnica e vigor físico no setor ofensivo. Apesar da criação de jogadas ser um pouco falha, com um Michael Essien já envelhecido, Kevin-Prince Boateng, do Schalke 04-ALE, é um jogador de muita velocidade e boa finalização, vide seu gol contra os americanos em 2010. Jovens como Kwadwo Asamoah, da Juventus-ITA e Andre Ayew (Olympique Marseille-FRA) podem desequilibrar na base da velocidade contra os laterais norte-americanos. Eles podem buscar triangulações com Boateng a fim de criar jogadas pelos flancos do campo, podendo cruzar a bola para a área. Lá, reside o principal destaque do ataque das Estrelas Negras.

Asamoah Gyan vem de uma temporada espetacular pelo Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos, com 39 gols em 36 partidas. O camisa número 3 tem presença de área, é perigoso no jogo aéreo, é veloz e finaliza bem com qualquer uma das pernas . Gyan vem em boa fase (marcou na vitória por 4 a 0 sobre a Coreia do Sul) e tentará levar os ganeses o mais longe possível. O atacante, porém, não se preocupa muito em ser tratado como uma zebra. "Sabemos o que pensam de nossa seleção, que a classificam como um azarão e outras equipes como favoritas, mas não se ganha com nomes no futebol", afirmou.

O centroavante, por sinal, protagonizou uma das mais marcantes cenas do último Mundial. Foi ele quem perdeu o pênalti no fim da prorrogação contra o Uruguai, que, se convertido, levaria uma seleção africana à semi-final pela primeira vez na história da competição. Gyan ainda teve forças para cobrar e converter a tentativa na disputa por pênaltis, mas isso não foi o suficiente para os ganeses avançarem.

O técnico Kwesi Appiah, apenas assistente naquela ocasião, considerou a importância daquele erro, mas tentou tirar o peso das costas do atacante. "É algo que sei que a maioria dos ganeses prefere esquecer. Mas temos de seguir em frente. Isso acontece, pode ocorrer com qualquer jogador. Se tivéssemos vencido aquela decisão por pênaltis, poderíamos ter ganhado a Copa", ponderou.

Appiah, nascido no país de sua seleção, o que é um pouco incomum entre técnicos de equipes africanas, garantiu que seu elenco está preparado para novamente ir além do esperado por muitos nesta Copa. "Atletas experientes são importantes em competições de alto nível, pois você precisa da confiança deles para prender a bola. Ao mesmo tempo,são necessários jovens que podem acelerar o jogo. Acho que vamos surpreender o mundo", finalizou.

Estados Unidos busca redenção diante de algozes para manter as esperanças vivas

O futebol cresce cada vez mais nos Estados Unidos. Depois de ser primeiro colocada num grupo que continha a Inglaterra em 2010, a seleção norte-americana tem um desafio ainda maior pela frente, e uma classificação serviria como uma afirmação para a evolução do esporte bretão no país. Para isso, vencer esse primeiro duelo é essencial, como garantiu o técnico Jurgen Klinsmann. "Estamos ansiosos pelo primeiro jogo, porque estamos trabalhando há um mês. Queremos que a Copa do Mundo comece logo e todos abracem a nossa Seleção, porque nossa meta é estrear com o pé direito", revelou o alemão.

Na defesa, Tim Howard é sinônimo de segurança para o gol dos Estados Unidos. Titular absoluto no Everton, da Inglaterra, o arqueiro tem mais de 100 jogos pela seleção de seu país. Sua experiência será necessária para a equipe, já que ele é um dos cinco únicos jogadores que já disputaram uma Copa do Mundo entre os 23 convocados. Howard, porém, não vê problema em exercer o papel de líder no grupo. "Eu gosto de liderar com ações e não com palavras. Eu chego todo dia e faço meu trabalho com atitude positiva e intensidade. Quando os jovens veem esse tipo de coisa, eles entendem como deve ser feito e usam como exemplo Você precisa ter certeza de que o ritmo do treino seja forte. Um líder não é aquele que fica gritando o tempo todo, é o cara que faz as coisas da forma correta. Ele é quem dá o exemplo. O cara que sempre está se cobrando", considerou.

Clint Dempsey continua sendo a grande esperança norte-americana dentro de campo. Com o corte de Landon Donovan, ele é o jogador de linha mais icônico do elenco e, em sua terceira Copa, enfrentará Gana mais uma vez (ele foi o autor do gol dos EUA em 2006). O jogador do Seattle Sounders teve boa passagem pela Premier League e anotou 8 gols em 9 partidas na Major League Soccer, a liga norte-americana.

Dempsey, porém, não é o principal responsável por balançar as redes pelos Yankees. Jozy Altidore é o homem mais avançado no setor ofensivo dos americanos e merece uma atenção especial da zaga ganesa. O atacante do Sunderland não teve uma temporada de destaque pelo clube inglês (foram 2 gols em 39 jogos). Altidore, contudo, marcou duas vezes contra a Nigéria em amistoso preparatório para a Copa e acabou com um jejum de 28 partidas sem marcar.

Em 2006, os Estados Unidos perderam após uma cobrança de pênalti certeira. Em 2010, um belo de perna esquerda de Asamoah Gyan decidiu a classificação para as quartas de final na prorrogação. Contudo, tudo isso é história. Os Estados Unidos têm a chance de escrever um novo capítulo na história, totalmente distinto da história recente. Gana, de manter a escrita. De qualquer modo, espera-se mais um confronto emocionante, e não poderia ser diferente.