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Der Weisses: jogadores alemães que fizeram história no Real Madrid

Ao longo da história, futebolistas alemães marcaram seus nomes no gigante espanhol e se tornaram num legado que aguarda o campeão mundial Toni Kroos.

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Der Weisses: jogadores alemães que fizeram história no Real Madrid
Breitner, Netzer, Stielike, Schuster e Illgner: alemães que conquistaram títulos com a camisa do Real Madrid (Arte: Rafael Mateus/VAVEL Brasil)
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Por Rafael Mateus

Terminada a Copa do Mundo, um dos grandes destaques da seleção alemã no título mundial é um dos novos contratados do Real Madrid. O jogador em questão veio do Bayern de Munique, e se configura numa das novas esperanças do clube de Madrid para celebrar conquistas na temporada que se inicia. Toni Kroos? Não necessariamente... se isso fosse escrito no ano de 1974, o jogador em questão seria Paul Breitner. Esse é apenas um dos grandes jogadores alemães que se transferiram para Madrid e acabaram por fazer parte de páginas gloriosas na história do clube.

Era o ano de 1974, e a seleção da Alemanha Ocidental conquistara o título mundial contra a Holanda de Johan Cruyff. Paul Breitner, uma das figuras mais importantes da seleção alemã, deixava o Gigante da Baviera para jogar no clube espanhol. Um dos maiores jogadores da história do futebol, Breitner não era o único futebolista alemão com grande qualidade técnica que o Real Madrid contava para a temporada 1974-75. Além dele, o elenco do time tinha Günter Netzer desde a temporada anterior. Com isso, o Real Madrid contratou dois dos mais importantes jogadores que compunham as principais equipes alemãs da década de 1970: o Bayern de Breitner e o Borussia Mönchengladbach de Netzer.

A transferência de Günter Netzer tem um caráter singular, pois ele foi o primeiro jogador alemão a atuar pela equipe do Real Madrid. A transação envolvendo os dois times atingiu a quantia de 3 milhões de Marcos Alemães – um valor altíssimo para a época – e causou grande repercussão tanto na mídia alemã como na espanhola. Com o título de Fussballer des Jahres (melhor jogador alemão do ano), Netzer estreou pelo Real Madrid numa partida amistosa contra o Hércules CF em Alicante, no dia 4 agosto de 1973 (vitória merengue por 2 a 1). A primeira partida diante dos torcedores madridistas, no Estádio Santiago Bernabéu, foi no amistoso contra o River Plate da Argentina, no dia 29 de agosto de 1973. Cerca de 100 mil pessoas assistiram ao jogo, e a excelente atuação – com dribles e passes precisos – rendeu o apelido de “Torero” para Netzer. O Real Madrid venceu essa partida por 3 a 1.

Repercussão da transferência de Netzer para o Real Madrid (Reprodução: Hamburger Abendblatt)

O treinador madridista da época era Miljan Miljanić, que via em Breitner o potencial técnico de utilizá-lo não apenas como um defensor, deslocando-o para o meio de campo. Em parceria com Netzer, Breitner formou uma excelente dupla na meia, que dava um ritmo acelerado e técnico à equipe comandada por Miljanić. Com ambos, o Real Madrid reconquistaria a hegemonia no âmbito nacional – que houvera sido perdida para o FC Barcelona de Cruyff na temporada 1973-74 – com o bicampeonato espanhol, em 1974-75 e 1975-76. Nesse período, o Real Madrid também venceu a Copa do Rei de 1975, então chamada de Copa del Generalísimo em referência ao General Francisco Franco que estava no poder.

Breitner, Miljanić e Netzer no periodo em que atuavam pelo Real Madrid, no ano de 1975 (Foto: Archivo Marca)
Netzer e Breitner na equipe do Real Madrid campeão espanhol da temporada 1974-75 (Reprodução: Diario AS)

É provável que o fato mais curioso na trajetória de Breitner e Netzer pelo Real Madrid seja a disputa da Copa dos Campeões da Europa na temporada 1975-76. Após um confronto épico contra o Derby County – em que foi goleado na Inglaterra por 4 a 1 e conseguiu se classificar após uma vitória dramática por 5 a 1 na capital espanhola – o Real Madrid enfrentaria nas quartas de final uma equipe bem conhecida aos olhos de Netzer: o Borussia Mönchengladbach. Foi um confronto extremamente equilibrado que resultou em dois empates (2 a 2 em Gladbach e 1 a 1 em Madrid). Los Blancos se classificaram devido ao gol a mais que haviam marcado fora de casa. Nas semifinais, o Real Madrid enfrentaria novamente uma equipe alemã, coincidentemente o Bayern de Munique, a ex-equipe de Breitner.

No confronto anterior, os torcedores em Gladbach reencontraram Netzer e durante a partida não houve nenhuma pressão além daquela que há habitualmente contra um adversário. Não ocorreu o mesmo com Breitner na partida contra o Bayern. Após um empate por 1 a 1 em Madrid, Breitner foi fortemente vaiado na partida de volta em Munique. A todo o momento em que tocava na bola, o jogador ouvia aquele som que vinha das arquibancadas.

É plausível que essa reação da torcida se deva a forte personalidade que ele possuía. Antes de ir para a Espanha, Breitner havia disparado diversas críticas contra alguns integrantes da seleção alemã, inclusive ao auxiliar técnico Jupp Derwal. Isso o afastaria da Mannschaft por seis anos. Num Olympiastadion hostil à Breitner, os gols de Gerd Müller foram os responsáveis pela vitória por 2 a 0 sobre o Real Madrid. Classificados para a final, os bávaros conquistariam consecutivamente o terceiro título da Copa dos Campeões da Europa.

Após a passagem de Paul Breitner e Günter Netzer, um jogador alemão que atuava como líbero também faria sucesso em Madrid: Uli Stielike. Assim como Netzer, Stielke veio do Borussia Mönchengladbach e permaneceria por oito temporadas no time merengue (entre 1977 e 1985). Como curiosidade, ele foi a última grande contratação realizada por Santiago Bernabéu, lendário presidente do clube. Bernabéu foi até Gladbach com a intenção de levar para Madrid um de seus companheiros de clube (mais especificamente Herbert Wimmer). No entanto, mudou de ideia assim que assistiu Stielke em campo.

Santiago Bernabéu cumprimenta Uli Stielike que era recém chegado ao Real Madrid (Foto: Archivo Marca)
Uli Stielike na época em que atuava pela equipe madridista (Foto: Archivo Marca)

Uli Stielike poderia atuar tanto na defesa como no meio campo, e alcançou a marca expressiva de 308 jogos disputados e 50 gols marcados com a camisa merengue. Era um jogador de grande colocação em campo, e que encantava aos torcedores devido a sua forte personalidade. Ao longo dos anos, ele manteve um alto nível de atuação em campo, chegando a ser escolhido como o melhor defensor de La Liga, já quase no final de sua passagem pelo clube, no ano de 1984. Com o Real Madrid, Stielke foi tricampeão espanhol (nas temporadas 1977-78, 1978-79, 1979-80), venceu a Copa do Rei em 1980 e 1982 e conquistou a Taça UEFA no ano de 1985.

Uli Stielike, considerado o melhor jogador do clube na temporada 1980-81 (Reprodução: Revista Real Madrid)
Uli Stielike com o prêmio de melhor defensor de La Liga, em 1984 (Foto: Archivo Marca)
Uli Stielike com o troféu da Taça UEFA em 1985 (Foto: Getty)

No final da década de 1980, outro jogador alemão de grande técnica chegaria ao Real Madrid. Nesse caso, havia uma peculiaridade: após jogar um longo período no grande rival Barcelona. O jogador é Bernd Schuster, que atuou entre 1980 e 1988 com as cores do time catalão. Após uma conturbada transferência, Schuster se tornaria numa das peças fundamentais da equipe do Real Madrid que entre as décadas de 1980 e 1990 seria conhecida como La Quinta del Buitre.

Esse nome faz referência a um dos grandes jogadores daquele elenco, Emilio Butragueño, e foi dado devido ao grande número de jogadores formado na base do clube – tais como Miguel Pardeza, Manolo Sanchís, Míchel e Rafael Martín Vázquez – que conquistariam diversos títulos no período. Apesar de permanecer apenas por dois anos na equipe (temporadas de 1988-89 e 1989-90), Schuster foi bicampeão espanhol e também conquistou Copa do Rei em 1989. Anos mais tarde, mais precisamente entre os anos de 2007 e 2008, ele chegou a se tornar treinador do Real Madrid.

Schuster, no período em que atuou pelo Real Madrid (Foto: Archivo Marca)
La Quinta del Buitre (Imagem: Rafael Mateus/VAVEL Brasil)

Schuster começou sua carreira profissional no FC Köln, mais popularmente conhecido como Colônia. Esse clube alemão ajudaria a formar outro jogador que faria história em Madrid. Se Schuster era um meio de campo clássico, com grande capacidade técnica e passes precisos, o outro jogador revelado pelo Colônia se notabilizaria como goleiro: Bodo Illgner. Entre 1985 e 1996, Illgner jogou pela equipe do Colônia, sendo considerado o melhor goleiro europeu no ano de 1991 pela UEFA. Suas grandes atuações levaram ao Real Madrid contratá-lo para temporada 1996-97.

Illgner conquistaria uma série de títulos em Madrid. Já em sua primeira temporada, participou de 40 partidas e se tornou campeão espanhol. Por um curto período, ele chegou a perder a titularidade para o espanhol Santiago Cañizares. No entanto, recuperou a condição de titular na equipe, e se tornou um dos jogadores-chave na disputa da final da UEFA Champions League de 1998. A vitória contra a Juventus de Turim por 1 a 0 fez com que equipe madridista voltasse a conquistar o mais importante torneio interclubes europeu, após mais de três décadas do sexto título, que houvera sido vencido na temporada 1965-66.

Na temporada 1999-2000, Illgner foi sucedido pelo jovem Iker Casillas, então com 18 anos. Mesmo na reserva, o alemão fez parte do grupo que venceu o oitavo título europeu do Real Madrid em 2000. Além dos títulos europeus, encerrou a carreira em Madrid com dois títulos espanhóis (1996–97, 2000–01), Mundial Interclubes de 1998 e a Supercopa da Espanha de 1997. No mês de abril de 2013, Illgner foi escolhido, em enquete feita pelo jornal espanhol Marca, como um dos onze melhores jogadores estrangeiros da história do Real Madrid.

O clube espanhol só voltaria a contar com um jogador alemão alguns anos depois. Após um longo período jogando pelo Borussia Dortmund, Christoph Metzelder esteve por três temporadas (entre 2007 e 2010) no elenco merengue. De todos os jogadores alemães que atuaram pelo clube, provavelmente foi aquele que teve a passagem mais discreta. Em parte, isso ocorreu devido ao fato de que contusões atrapalharam o desempenho de Metzelder. Em fevereiro de 2008, depois de estar livre de lesões nos primeiros meses no clube, ele foi submetido a uma cirurgia no pé esquerdo, o que resultou em quase dois meses fora dos gramados. Mesmo com esses problemas, fez parte do elenco campeão espanhol na temporada 2007-2008.

Recentemente, o Real Madrid contratou jogadores alemães de renome, mais especificamente Mesut Özil e Sami Khedira. Em parte, isso se deve a uma excelente geração de jogadores formada na Alemanha, principalmente após o vice-campeonato mundial de 2002. Um trabalho árduo – que abrange o fortalecimento da Bundesliga e a reestruturação das categorias de base – permitiu que os grandes clubes europeus voltassem seus olhos para os jogadores alemães com técnica apurada que surgiram nos últimos anos. Nesse contexto, Özil e Khedira participaram de algumas conquistas madridistas recentes, sendo que Khedira fez parte da equipe que conseguiu a sonhada La Décima na última temporada da UEFA Champions League.

Sami Khedira durante a comemoração pela conquista de La Décima (Foto: dpa)

Ao longo dos anos, com destaques variados, os alemães contribuíram na trajetória de inúmeros títulos conquistados pelo Real Madrid. Esse é o legado que aguarda Toni Kroos, apenas o nono futebolista alemão a jogar pelo clube em toda história. “Jogar no Real Madrid é o maior desafio”, disse o jogador assim que chegou ao clube. Sem dúvida é um enorme desafio para Kroos, ainda mais se pensarmos no retrospecto dos futebolistas alemães que passaram por Madrid. Com técnica e conquistas, tais jogadores se tornaram legítimos der Weisses, ou Los Blancos em alemão. Kroos honrará o legado que começou a ser escrito por ícones como Günter Netzer e Paul Breitner? Teremos a resposta assim que a temporada 2014-15 começar.

Apresentação oficial de Toni Kroos ao Real Madrid (Foto: Javier Soriano / AFP)
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Rafael Mateus
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