Como e porque a Croácia chegou à final de uma Copa pela primeira vez na história

Equipe desbancou seleções favoritas e a Rússia, anfitriã do torneio

Como e porque a Croácia chegou à final de uma Copa pela primeira vez na história
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Por Ygor Henriques Moreira

No meio do futebol, qual seria o tempo ideal para uma seleção ter todo um planejamento correto para chegar até a final de uma Copa do Mundo?

Para muitos, quatro anos, para outros, após a eliminação de uma competição continental. Zlatko Dalic mostrou aos torcedores no mundial que você pode em nove meses solucionar problemas antigos no elenco, mexer com a parte mental dos atletas, a ponto de conseguir fazer com que todos os seus comandados possam ir além do que eles normalmente costumam desempenhar em campo.

Zlatko Dalic jamais treinou um time de nome na Europa e muito menos atuou pela seleção como atleta no passado. Passou por diversos clubes árabes e atuou como assistente técnico de Drazen Ladic na seleção sub-21 da Croácia.

Após a Croácia ficar ameaçada de não ir ao mundial na Rússia, a Federação Croata, em uma ligação da lenda Davor Suker a Zlatko, apostou em Dalic para levar a seleção a Copa do Mundo e ele não pensou duas vezes antes de aceitar.

Contratado dia 7 de Outubro, esteve na beirada do campo no jogo decisivo contra a Ucrânia, que ocorreu dois dias depois de ser anunciado, com a seleção Croata vencendo por 2 x 0 na Ucrânia, garantindo vaga na repescagem.

Exatos um mês depois e chega o momento decisivo. Agora com seus comandados sendo convocados por ele e com um estilo de jogo sendo definido em poucas semanas, a seleção conseguiu golear a Grécia no primeiro jogo por 4 x 1 e garantiu a vaga no jogo da volta empatando por 0 x 0 em Pireu.

A Croácia não demonstrava um bom futebol e com a chegada de Dalic, viu a esperança com o técnico, arrumando um time que tinha jogadores renomados, mas que não brilhavam na seleção como atuavam nos clubes. Dalic começou a entender como explorar o melhor dos seus craques na seleção para que todos pudessem fazer o time engrenar.

O problema maior é que a metade dos convocados para o mundial esteve no Brasil em 2014 e a seleção foi bem irregular, caindo na primeira fase. Dalic mesclou o time, dando chances aos jovens Kramaric e Rebic, mudou o esquema do time e passou confiança aos atletas.

Os amistosos antes do mundial foram proveitosos, apesar de perder dois jogos entre quatro disputados. A Croácia tinha um padrão de jogo e era visível, algo cobrado pelos seus adeptos e pela mídia. Dalic focou em uma zaga bem experiente, com um meio campo bastante técnico e com alas velozes, podendo no ataque ajudar a defesa, quando o time estivesse sem a bola. Mandzukic seria a referência do time no ataque, mas Dalic fez testes, mudando peças da equipe conforme o esquema do adversário.

Como passar em um grupo em que a Argentina tem o melhor jogador do mundo no plantel, a Nigéria é a seleção africana com maior potencial e a Islândia sendo a sensação da Eurocopa? O segredo foi um: Os craques, enfim, apareceram.

Na estréia, como sempre, o medo de perder sendo maior que a vontade de atacar. O time não convenceu, mas Modric decidiu a partida numa cobrança de pênalti. Contra a Argentina, o jogo da afirmação. Uma vitória colocaria o time nas oitavas, enquanto a derrota complicaria o rumo da seleção na copa. Com atuação maravilhosa de Modric e eficiente de Rebic, a seleção goleou a Argentina e convenceu, algo que a Croácia não apresentava desde o início da EURO 2016.

Contra a Islândia, mesmo com time misto, a seleção conquistou a vitória e foi uma das poucas a vencer os três jogos. Uma seleção que era incógnita antes da copa se afirmou no tempo certo.

Contra a Dinamarca, Subasic brilhou nas penalidades e a equipe passou por sua primeira prorrogação, contra a Rússia, a anfitriã, um jogo duro, sofrendo empate no fim da prorrogação, a seleção novamente venceu nos pênaltis, com Rakitic novamente marcando o último gol.

A semifinal, aquele degrau no qual a Croácia parou em 1998, voltou ao caminho da seleção novamente. Se em 1998 ela parou na França, vencer a Inglaterra seria o caminho para enfrentar os Franceses novamente, agora numa final e foi o que ocorreu.

Com um time valente, batalhador, a seleção jogou sua terceira prorrogação em uma semana, totalizando uma partida a mais na copa que os rivais, vencendo a Inglaterra na prorrogação, de virada, com autoridade e com a estrela de Perisic brilhando.

O time conquistou a vaga na final de forma heróica, com os atletas não tendo forças para comemorar, de tão exaustos. Dalic brilhantemente esperou a prorrogação chegar para mexer na equipe, sabendo da limitação física dos atletas. Com estratégias distintas para cada jogo, Dalic chegou a final de forma invicta.

O que mais chamou a atenção, foi que, não só Modric, mas sim outros jogadores renomados foram vitais em determinados momentos do mundial. Rakitic, Subasic, Perisic e Mandzukic chamaram a responsabilidade, Rebic sendo incansável, Vida e Lovren seguros na defesa, com Strinic e Vrsaljko desempenhando bem o papel defensivo dos laterais. Quando chamados, Kramaric, Brozovic e Badelj atuaram bem.

Passar por Argentina, Inglaterra e também pela surpresa Rússia foi uma tarefa difícil, mas não tão impossível como imaginaram antes e durante a competição, já que o esquema croata e a forma como o time se comportou em campo prevaleceu contra Messi, Kane e os donos da casa.

Dalic sempre priorizou o comprometimento dos atletas e por problemas disciplinares, cortou Kalinic da copa, um dos principais atacantes do time, após o mesmo se recusar a entrar no fim do primeiro jogo da seleção contra a Nigéria. Apesar do problema, o clima da seleção foi muito bom, com os parentes sempre em volta dos jogadores, deixando o ambiente mais leve.

Em forma de gratidão, antes do mundial, Dalic chamou Ladic, técnico que o chamou para ser assistente da seleção de base, para trabalhar com Ivica Olic, ex-craque da Croácia, no corpo técnico da seleção.

Para muitos, ter pouco tempo de trabalho pode ser uma desculpa em um revés, mas Dalic mostrou como ser comprometido, inteligente e inovador em um espaço tão curto de tempo. Para muitos, a Croácia é uma surpresa, mas desde o primeiro dia, Dalic apostava no potencial dos seus comandados.

Se Dalic comandou a Croácia apenas sete vezes antes da copa, ele pode mostrar aos amantes do futebol que em seu sétimo jogo treinando a Croácia na copa, que ele pode levantar a taça de forma inédita para a Croácia.