O meia Mesut Özil encerrou seu ciclo na Seleção Alemã neste domingo (22), por meio de sua conta oficial no Twitter. Em tom de desabafo, ele justificou a decisão por ter sido tratado de forma preconceituosa por membros da Federação Alemã de Futebol (DFB), devido a questões políticas tratados pelo jogador.

Campeão mundial em 2014, Özil tinha um relacionamento conturbado com membros da entidade alemã. O principal motivo, de acordo com o meia, era sua origem turca e o posicionamento sobre a questão dos imigrantes na Alemanha. No entanto, a crise aumentou ainda mais após uma foto em que Özil e seu ex-companheiro de seleção, Ilkay Gündogan, posaram juntos com o presidente da TurquiaRecep Tayyip Erdogan, antes do início da Copa do Mundo.

A possível conotação política do encontro desagradou membros da federação. O presidente da DFB, Reinhard Grindel, e o coordenador geral, Olivier Bierhoff, repreenderam publicamente os dois atletas e causou um mal-estar dentro da seleção.

"O tratamento que eu recebi da DFB e de muitos outros me fazem não mais querer vestir a camisa da seleção da Alemanha. Eu não me sinto querido e acho que tudo o que eu conquistei desde a minha estreia, em 2009, foi esquecido", desabafou no comunicado.

Grindel foi membro do Parlamento alemão de 2002 até 2016 e tem histórico de frases com cunho discriminatório. A perseguição a outras nacionalidades foram lembradas pelo jogador em seu texto, que fez questão de reafirmar a dupla nacionalidade que vários jogadores da Seleção Alemã possuem.

"Em 2004, ele era membro do Parlamento (alemão), e afirmou que o multiculturalismo é na verdade um mito, uma mentira duradoura, enquanto votava contra a legislação que era favorável às duplas nacionalidades e às punições por subornos, e também disse que a cultura islâmica se tornou muito entranhada em muitas cidades alemãs. Isto é imperdoável e não se pode esquecer".

"Racistas não deveriam trabalhar na maior federação de futebol do mundo, que tem muitos jogadores de famílias com dupla ascendência. Atitudes como as deles simplesmente não refletem os jogadores que supostamente eles representam", declarou.

Muçulmano, o jogador nunca escondeu suas raízes turcas. Antes do início das partidas, Özil costuma recitar o Alcorão, livro sagrado do islamismo. Ele já afirmou que sua 'técnica e sentimento pela bola é o lado turco de seu jogo', enquanto a 'atitude e disciplina são de sua parte germânica'. Mesmo tendo em mente o resultado do polêmico encontro, o atleta disse que repetiria novamente a foto com Erdogan.

"Para mim, ter uma foto com o presidente Erdogan não tem a ver com política ou eleições, mas com o respeito que tenho ao mais alto cargo do país de minha família. Meu trabalho é ser um jogador e não um político. Sempre que nos encontramos, nós falamos sobre futebol, já que ele também era jogador na juventude. Um líder político não pode ser separado da pessoa. Mas neste caso é diferente. Se eu pudesse, faria a foto novamente", disse.

Mesut Özil se despede da Alemanha após nove anos representando o país em amistosos e torneios. Além de passagens pelas categorias de base do time alemão, ele coleciona 92 jogos pelo time principal e 23 gols. Por cinco anos foi eleito o melhor jogador do país.