Nas últimas temporadas, o Tottenham tem sido uma das equipes de melhor futebol na Inglaterra e até mesmo na Europa. Os Spurs têm jogado de forma consistente, com jogadores outrora desacreditados tendo um ótimo desempenho e conseguindo resultados de destaque, como o vice-campeonato na última Premier League – feito que possibilitou a ida à Uefa Champions League, onde após duas vitórias, o time enfrenta o Real Madrid nesta terça-feira (17) pela terceira rodada da fase de grupos.

E grande parte desse sucesso passa pelas mãos de seu técnico, Mauricio Pochettino. O argentino chegou ao clube em 2014 e mudou a maneira da equipe jogar, sendo reconhecido como um dos principais managers no futebol inglês. Ele, porém, crê que seu sucesso deve ser dividido com os atletas que comanda.

Em entrevista ao jornal espanhol El País, o treinador elogiou sua equipe e lembrou da disciplina do Tottenham, caracterizando o time como um “caos organizado”. Além disso, ele lembrou que no plantel não há jogadores reconhecidos mundialmente pela grande habilidade e não tem condições de trazer caros reforços no mercado, mas que a união dos atletas que estão no elenco faz com que o time avance em campo e conquiste os resultados que vêm atingindo. De forma específica ele elogiou o artilheiro da equipe londrina, Harry Kane, classificando-o como um jogador forte mentalmente e que visa sempre melhorar e ser o melhor a todo tempo.

Somos uma equipe flexível. Considero que é uma grande qualidade ter essa flexibilidade para nos reestururarmos ou nos reinventarmos em cada situação. É algo que defendemos. Primeiro, porque nós como técnicos não queremos ser dogmáticos e sim transferir para o trabalho em campo. Somos disciplinados, mas tentamos gerar caos. Queremos ser um caos organizado. Não temos um perfil de jogadores com essa capacidade de estouro individual. Não temos um Messi", comentou.

"No nosso plantel há muita qualidade, mas a nossa principal é a de nos associar, criar, combinar. Vamos avançando com a bola criando movimentos e associações. Porque com estes jogadores com talento, nós temos que criar. Não temos esse poder financeiro para ir comprar um Neymar, um Bernardo Silva, um Sané, um Asensio ou um Isco. Estão fora de nosso alcance e são cada vez mais raros. Temos jogadores como Dele Alli, que é capaz de furar um bloqueio e sair dessa estrutura”, disse o comandante dos Spurs.

Kane pode jogar em qualquer posição, porque tem um nível de competitividade extraordinária. É competitivo onde você o coloca. As palvras frustração, decepção em campo... não conhece. É um guerreiro. Construiu a si mesmo. Nós lhe demos as ferramentas, mas a fortaleza está na sua cabeça. Ele acredita em si mesmo. Acredita no que faz. Quer ser o artilheiro da Premier League. Quer ganhar. Isso não se compra em um supermercado. É difícil colocar isso nos jogadores mesmo sendo nosso desafio. Ele tem vontade de ser um jogador top”, acrescentou.

Kane é o artilheiro do Tottenham e da seleção inglesa (Foto: Nigel French/PA Images/Getty Images)
Kane é o artilheiro do Tottenham e da seleção inglesa (Foto: Nigel French/PA Images/Getty Images)

Além disso, Pochettino também falou sobre o duelo contra o Real Madrid nesta terça-feira (17) no Santiago Bernabéu. O argentino afirmou que um jogo como este gera expectativa de alto nível e classificou o Real Madrid atualmente como a melhor equipe do mundo. Ele também elogiou especificamente o zagueiro Sergio Ramos, um dos pilares do time madridista. O treinador declarou que hoje pagaria ingresso para ver o espanhol em ação, e lembrou que o defensor possui uma energia em campo que os atletas precisam ter desde a juventude para conseguir sucesso.

Isso é Champions League! Poder jogar contra o Real Madrid no Wembley ou no Bernabéu é sentir a alta competição. É sentir a adrenalina que apenas esse tipo de partida lhe dá. Muitos poucos jogos podem ser mais excitantes. Como uma final de Champions ou de Copa. Vai ser uma das oportunidades mais bonitas que terei na minha carreira como técnico. Hoje o Madrid me parece ser a melhor equipe do mundo”, afirmou.

Hoje, como treinador, pagaria um ingresso para vê-lo (Sergio Ramos). É o melhor zagueiro que há. Não há ensino melhor do que o assistir, não só por sua capacidade física mas também pelos seus conceitos, pela sua energia e por como se comporta. É algo que às vezes perdemos de vista. Devemos lembrar isso aos jogadores porque para crianças, sejam inglesas ou espanholas, a bola é a fonte de emoções. Nossa grande responsabilidade é estimular isso. É educar os jogadores para que seu principal combustível seja a bola. Essa fome, essa energia, poder desfrutar com seus companheiros quando está treinando e jogando. Isso não pode ser esquecido”, adicionou.

Pochettino classificou Ramos como o melhor zagueiro do mundo (Foto: Fotopress/Getty Images)
Pochettino classificou Ramos como o melhor zagueiro do mundo (Foto: Fotopress/Getty Images)

Por fim, Pochettino falou sobre a força dada internamente aos jogadores mais jovens, especialmente os ingleses. No Tottenham são quatro os ingleses titulares no time (Kieran Trippier, Eric Dier, Dele Alli e Harry Kane), além de casos como o do latera-direito Kyle Walker, titular na seleção da Inglaterra e vendido ao Manchester City. O argentino lembrou que esse trabalho vem desde a época que treinou o Southampton entre 2013 e 2014, com outros jogadores revelados nos Saints que foram à seleção, e que essa responsabilidade parte de todos, não apenas do treinador.

Para ilustrar a necessidade e importância de ter jogadores jovens no plantel ele lembrou da época de atleta, quando o ex-zagueiro foi revelado pelo Newell’s Old Boys com 18 anos em 1989 e, comandado por Marcelo Bielsa, foi bicampeão argentino e vice-campeão da Copa Libertadores.

Nós cremos muito no talento inglês. Demonstramos isso no Southampton, de onde saíram vários jogadores para a seleção: Lallana, Luke Shaw, Jay Rodríguez, Rickie Lambert, Calum Chambers... Esse é um grande elogio que recebemos na Inglaterra desde que chegamos. Creio que o mérito inicial foi do Southampton, que recrutou esse talento inglês. A academia ali trabalha muito vem. E no Tottenham também. Muitos clubes ingleses trabalham bem com a base. Depois a responsabilidade é de quem toma as decisões acima de, em vez de contratar um jogador estrangeiro, se tem um na casa, aproveitar e dar-lhe a oportunidade de jogar”, disse Pochettino.

Sou muito agradecido à época do Newell’s quando Jorge Griffa veio me buscar em casa e José Yudica me deu a possibilidade de estrear com 17 anos, e Marcelo Bielsa confiou em dois zagueiros (Gamboa e Pocchetino) de 19 e 18 anos para jogar em uma liga argentina que não tem nada a ver com a de hoje.... Havia muito mais competência interna e jogava o campeonato contra futebolistas internacionais. Essa confiança que me transmitiram no Newell’s está no meu sangue. Lógico que gosto de trabalhar com jogadores como Llorente de 32 anos, ou Lloris de 30, mas também me encanta dar oportunidades aos jovens. Sou exigente. Aos jovens não dou a oportunidade de treinar ou estrear na equipe principal, eles têm que ganhar isso. Temos que detectar que ele tem esse talento ou capacidade”, encerrou.

Kane e Alli receberam chances com Pochettino e hoje se destacam na Inglaterra (Foto: Julian Finley/Getty Images)
Kane e Alli receberam chances com Pochettino e hoje se destacam na Inglaterra (Foto: Julian Finley/Getty Images)

Real Madrid e Tottenham se enfrentam no Santiago Bernabéu, em Madri, às 16h45 (hora de Brasília) desta terça-feira, 17. Nos dois primeiros jogos do grupo H da Champions League, o time de Londres bateu o Borussia Dortmund em casa por 3 a 0 e o Apoel fora por 3 a 1.