A realidade da Seleção Brasileira Feminina às vésperas do Campeonato Sul-Americano - que será realizado no Chile no ano que vem - não é nada boa. Após a saída de Emily Lima e o retorno de Vadão, as mudanças no comando técnico mostram que a CBF não aprendeu com os erros de um passado recente e que o futuro não é nada otimista para essa geração.

Novas ideias, progresso e um desnecessário rompimento

Quando chegou à Seleção Brasileira, Emily Lima foi a primeira substituta direta do próprio Vadão. A treinadora, que fez história ao tornar-se a primeira mulher no comando da Canarinho, buscava fatores até então jamais vistos em gestões anteriores: planejamento, tática, análise de desempenho e avaliação de atletas em todo o país. O início foi excelente - logo de cara, Emily e suas comandadas levantaram a taça no Torneio de Manaus em 2016. Mesmo não sendo uma data FIFA, a equipe brasileira teve que se impor diante de seleções como Itália, Rússia e Costa Rica.

A primeira prova de fogo para a treinadora foi em amistoso diante da Espanha, jogando fora de casa. Diante de uma rival que iria disputar a Eurocopa Feminina, o Brasil saiu atrás no placar, mas conseguiu a virada impondo seu estilo de jogo diante de um rival acostumado a manter a posse de bola. Logo na sequência, outra importante vitória diante da Islândia e uma derrota - jogando com uma equipe praticamente reserva - diante de uma Alemanha completa, prestes a disputar a Euro.

O Torneio das Nações foi o ponto chave para que o já questionado trabalho da treinadora ruísse. Com um rendimento abaixo do esperado, o Brasil mostrou pontos fracos em diversos setores nas três partidas da competição. Os seguintes amistosos diante da Austrália, equipe que vem crescendo na modalidade, foram o estopim para a demissão de Emily Lima. Ao decidir pela rescisão da treinadora, a CBF deixou clara sua pressão imediatista por resultados, e não evolução a longo prazo.

Em dez meses de trabalho, foram sete vitórias, cinco derrotas e um empate. 56% de aproveitamento e nenhuma competição oficial disputada. Em entrevistas, Emily ainda apontou Marco Aurélio Cunha foi um dos fatores-chave para sua demissão. De acordo com a treinadora, o coordenador técnico da Seleção Feminina interferia constantemente em seu trabalho. A poucos meses do Sul-Americano, a mudança no comando era realmente necessária?

Aposentadorias e incerteza: qual será o futuro da Seleção Feminina?

Cristiane, Rosana, Fran Andreia Rosa foram algumas das atletas que anunciaram aposentadoria da Seleção após a saída de Emily. De fato, são jogadoras importantes e que de fato contribuíram bastante para o desenvolvimento da equipe. No entanto, o Brasil fica para trás de seleções como Alemanha ou França por um motivo específico: não saber repor suas atletas.

O problema da Seleção jamais foi material humano - pois o Brasil produz, e sempre produziu, excelentes jogadoras. O problema está muito além, está em quem comanda o nosso futebol feminino. Com muito despreparo e preconceito, vivemos um verdadeiro jogo político de interesses. Tal cenário só prejudica todo a situação do esporte, tanto nos dias de hoje quanto para o futuro. Desde as categorias de base até a equipe principal, são problemas e mais problemas sem.

Na imprensa brasileira, as opiniões são as mesmas. Não se deu a Emily Lima o tempo necessário para que ela investisse em seu trabalho, mantendo-se pelo menos até o Sul-Americano. Atletas e ex-atletas reconheceram a evolução nesses 10 meses sob o comando da treinadora, e um ponto de vista é unânime: a decisão de rescindir o contrato de Emily não foi correta, muito menos bem pensada.

O retorno de Vadão já é um indicativo de retrocesso. Com uma mentalidade fechada - como foi visto há pouco em suas péssimas campanhas na Copa de 2015 e Olimpíadas de 2016 -, sua retomada ao posto de comandante não traz consigo grandes mudanças. O Brasil deve se qualificar à Copa do Mundo de 2019 com facilidade, devido ao ainda baixo nível das demais seleções sul-americanas, mas as perspectivas para o futuro não deixam de ser ruins. A única certeza que temos é de que o presente é obscuro para nossas duas vezes medalhistas de prata nas Olimpíadas e vice-campeãs mundiais - e o futuro é mais tenebroso ainda.