A constante troca de comando nos clubes brasileiros no futebol, principalmente de treinadores, é tema recorrente de debates, já que existem argumentos relevantes para os dois lados. Seja para os treinadores, que argumentam a necessidade de mais tempo para desenvolver o trabalho, ou mesmo quem defende a efetividade de mudanças quando os projetos não demonstram evolução nos primeiros meses. Os exemplos de clubes que trocaram o comando técnico em meio aos campeonatos nacionais em 2022 são muitos, não importa em qual divisão do futebol nacional o clube está.

Pedro Henriques já foi vice-presidente do Bahia, entre 2015 e 2017, e também é ex-diretor executivo do clube, período em que conquistou o prêmio de melhor CEO de Clubes do Brasil na realização da Conferência Nacional do Futebol (Conafut) de 2020. Com experiência do ponto de vista da diretoria, ressaltou que no mundo ideal a manutenção do profissional é o melhor, mas que existe muitas variáveis, que é o que geralmente ocasiona nas mudanças.

"A manutenção do trabalho de uma comissão técnica por um longo prazo seria, sem dúvidas, a melhor prática a se estabelecer. Mas a nossa cultura, por vezes, torna isso difícil, especialmente quando há pressão externa. Promover mudança do comando técnico para ceder a pressões externas costuma ser um erro. Por outro lado, se existir uma avaliação da diretoria sobre esgotamento do trabalho, desgastes nas relações internas e dificuldade do treinador de encontrar soluções dentro do elenco, pode ser interessante promover a mudança. Há uma linha tênue entre a convicção e a teimosia e é preciso atenção e assertividade para não ultrapassá-la, pois isso também traz prejuízos. Essa avaliação é difícil de se fazer apenas observando de fora, pois, algumas vezes, os resultados e performance em jogos não correspondem ao trabalho desenvolvido no dia a dia e é preciso tempo e paciência pra que essa relação se equilibre", disse.

Henriques falou também sobre o que podem ser os principais erros no momento da troca de treinador em meio a uma competição.

"Na verdade o impacto da mudança depende muito das circunstâncias em que ela se dá. Ordinariamente, os clubes trocam de treinador após qualquer sequência de maus resultados. Por outro lado, há situações de mudança a pedido do treinador, especialmente quando recebem boas propostas de outras agremiações. Seja qual for o caso, em boa parte das vezes, os dirigentes não tomam o cuidado de escolher um substituto que tenha uma linha de trabalho similar ao antecessor ou, no mínimo, adequada ao elenco que já está formado no clube. Não adianta trocar um treinador que estabeleça um jogo reativo por um que seja propositivo se os atletas disponíveis não forem capazes de entregar essa mudança. Além disso, há as consequências financeiras de uma rescisão contratual, e outros gastos com possíveis reforços caso a janela esteja aberta", finalizou.