Reflexões de um sábado de futebol

Reflexões de um sábado de futebol
Reflexões de um sábado de futebol
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Por Marcello Neves

Não serei dono da verdade, muito menos pretendo cagar regra sobre qualquer assunto. Escrevo esse texto para refletir, não para ter uma resposta. Gostaria de fazer pensar quem se atrever a lê-lo. O fato aconteceu neste sábado, durante a semifinal do Campeonato Carioca. Maracanã longe de estar lotado, mas com a torcida do Vasco inflamada e cantando que "lutou por negros e operários". Logo em seguida, falta para o Fluminense e a mesma puxa o grito de "time de viado"

Não vou generalizar a torcida do Vasco, pois sei que não são todos que apoiam tal cântico. Assim como não vou culpar só os cruzmaltinos, pois fatos como esse acontecem em todas as arquibancadas. Repito: não estou aqui para apontar o dedo, apenas quero te fazer pensar. Se você não é vascaíno, se coloque no lugar quando sua torcida acha que ofende outro chamando de "viado" - acha, pois ser homossexual não é ofensa. 

No caso do Vasco, em particular, é semana do aniversário de 90 anos de São Januário. Quem não conhece, pesquise. Desde sua construção até seus desdobramentos. É uma história linda, de luta contra o preconceito, de combate ao racismo. Foram pioneiros. Gesto que influenciou outros clubes que pouco a pouco também foram se libertando de amarras de sociedades passadas. 

Outro caso clássico: o São Paulo é semanalmente ofendido de "bambi" por rivais, mas a torcida grita "bicha" nos tiros de metas. Em Minas Gerais, piadas com Maria e Gaylo. No Rio de Janeiro, o Flamengo é o time de "mulambos" - este não ligado a homofobia, mas também preconceituoso. No Rio Grande do Sul então, são infinitas. Não faltam exemplos, todas as torcidas fazem isso, mas não são todos os torcedores que se prestam a esse papel. E por quê?

Então, por que você - torcedor de qualquer clube - que enche o peito para se gabar sobre a história de luta da sua equipe no passado, faz exatamente o contrário na arquibancada? Li algumas respostas nas redes sociais. "É coisa do futebol, é mimimi", alguns dirão, mas, você acha que as mesmas pessoas que lutaram contra o preconceito no passado pelo seu clube diriam o mesmo? Como disse, quero apenas te fazer pensar.

Fluminense, Vasco, Atlético-MG, Cruzeiro, São Paulo, Corinthians e etc... todos são times de homossexuais, sim. Assim como também são times de héteros, de brancos, de negros, de índios, de ricos, de pobres. De direita ou de esquerda. A discriminação é muito perigosa para ser atribuída como uma brincadeira. 

Cada época tem seu preconceito. E cada época tem seu combate.

A história é escrita todos os dias.