Manutenção do técnico Enderson Moreira no América e a validação do trabalho a longo prazo

Apesar de momentos de instabilidade, diretoria alviverde e treinador mantiveram unidos e foram coroados com título da Série B

Manutenção do técnico Enderson Moreira no América e a validação do trabalho a longo prazo
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Por Charley Moreira

Quando dois noivos estão prontos para trocarem aliança numa cerimônia de casamento, votos de amor e confiança são proferidos uns aos outros em frente à pessoa que conduz a solenidade. Assim como a noiva promete ao futuro marido amá-lo e respeitá-lo, independentemente da situação, Enderson Moreira o fez ao América-MG. Do outro lado, a diretoria alviverde, paciente como a maioria dos esposos, também cumpriu com os juramentos. No fim, a recompensa: o filho (título da Série B).

Depois de algumas oscilações na temporada e sondagens de clubes da elite do futebol brasileiro ao treinador, Enderson Moreira soltou o grito de "campeão" da segunda divisão do Campeonato Brasileiro neste sábado (25). A vitória por 1 a 0 em cima do CRB, na Arena Independência, em jogo válido pela última rodada do certame, deu o segundo título da Série B ao Coelho – o primeiro veio em 1997.

Contratado pelo clube mineiro em julho de 2016, Enderson ganhou, nesta semana, o posto de comandante mais longevo do país, já que Cláudio Tencati deixou o Londrina após seis anos. O título nada mais é do que a validação do trabalho a longo prazo, onde houve sintonia de ambas as partes: o técnico não abandou o projeto para se juntar a outras equipes, e a cúpula alviverde não o sacou do cargo quando os resultados não vieram.

A diretoria do América, aliás, tem muito mérito em toda essa história. Em maio deste ano, renovou o contrato do treinador até dezembro, e o presidente Alencar de Silveira garantiu que “renovamos com ele para sermos campeões da Série B e conseguir o acesso para a Série A. Ele continua no comando para sermos campeões e administrar este novo grupo que chega”.

"Ninguém conhece o elenco mais do que eu"

Técnico do Coelho é o mais longevo do Brasil (Foto: Divulgação/América-MG)
Técnico do Coelho é o mais longevo do Brasil (Foto: Divulgação/América-MG)

Chapecoense (duas vezes), Atlético-GO e Ponte Preta. O nome de Enderson Moreira foi cogitado nessas duas equipes durante o ano de 2017. O treinador, contudo, optou por continuar no América. O clube mineiro também poderia ter demitido o técnico, já que, em fevereiro, a equipe americana sucumbiu diante do inferior Murici-AL, na segunda fase da Copa do Brasil. Ou quando conseguiu apenas duas vitórias nas oito primeiro rodadas da Série B. Porém, nada disso aconteceu.

O América-MG ficou 12 rodadas sem perder na Série B

Os resultados adversos quase ocasionaram mudanças em seus conceitos de jogo, mas Enderson se manteve convicto nos maus momentos. "Sinceramente, sim. Não sei se isso é defeito ou qualidade. É claro que as pessoas veem os jogos, os atletas veem todos os jogos, duas ou três vezes, outras pessoas também veem... Então, todas discussões acerca de alterações, mudança de sistema [tático] foi conversada com a equipe técnica", admitiu.

Enderson, que contabiliza 32 vitórias, 23 empates e 25 derrotas em 80 jogos à frente do América, discorreu sobre as constantes mudanças de técnicos no futebol brasileiro. Em Minas Gerais, por exemplo, a o Atlético terminará a atual temporada com seu terceiro comandante – Roger Machado, Rogério Micale e Oswaldo de Oliveira –, enquanto América e Cruzeiro mantiveram seus respectivos técnicos e foram premiados com títulos (Série B e Copa do Brasil, respectivamente).

"O problema todo é quando você avalia apenas o resultado. Têm treinadores que eventualmente fazem trabalhos que não são de acordos com a ideia do clube. Às vezes, tem que trocar, porque as ideias não batem. Agora, quando você pega um treinador que você acredita que está desenvolvendo um bom trabalho, que você percebe que há evolução, mas os resultados ainda não aconteceram, eu acho que vale a pena persistir. Porque ninguém conhecia mais o elenco do América, no meio do ano, do que eu. Eu sabia das necessidades, daquilo que a gente era carente, e vamos lembrar: a gente perdeu vários atletas", pontuou.

Enderson Moreira ainda não sabe seu futuro, uma vez que o vínculo com o América expira em dezembro. Mas, mesmo que não fique no Lanna Drumond para 2018, o técnico cumpriu seu objetivo: realizar um grande trabalho no Coelho.

"É muito importante, na figura do treinador, quando você tem o reconhecimento de um bom trabalho. Se você reconhece um bom trabalho, os resultados podem, momentaneamente, serem ruins. Mas eu não tenho dúvidas que, na sequência, a gente pode crescer muito e os resultados virem", finalizou.