A rivalidade centenária entre Santa Cruz e Náutico, que consiste no 15º clássico mais antigo do futebol brasileiro e no terceiro clássico mais longevo de Pernambuco, ganhará um novo capítulo neste sábado (4), às 16h30, horário do Recife (17h30 no horário brasileiro de verão), no Estádio do Arruda. Em situação delicada na Série B, tricolores e alvirrubros duelam na 33ª rodada para seguir com chances de sobrevivência no certame.

O Clássico das Emoções guarda muitas histórias memoráveis, tais como a oportunidade em que o Timbu garantiu a exclusividade do hexacampeonato estadual contra a Cobra Coral em 1974, no Estádio dos Aflitos; a épica virada tricolor na final do Campeonato Pernambucano de 1993, no Arruda, com um jogador a menos em mais da metade do jogo; a reviravolta impressionante dos alvirrubros na decisão de 2004, quando necessitavam de uma vitória por, no mínimo, dois gols de diferença e acabaram por aplicar um acachapante 3 a 0 em pleno Arrudão; as vitórias no Quadrangular Final da Série B de 2005 que renderam ao Santinha o acesso à Série A; e o triunfo vermelho e branco na semifinal estadual de 2011, no duelo particular entre os atacantes Carlinhos Bala e Brasão.

Contudo, o cenário hoje não tem nada a ver com as glórias que marcaram este grande duelo ao longo de um século. O fantasma da Série C assombra o Mais Querido e o Gigante dos Aflitos, respectivos 18º e 19º colocados com 32 e 28 pontos. O primeiro time fora da zona de rebaixamento, o CRB, e a equipe que abre o Z-4, o Luverdense, somam 39 pontos. Ambos já jogaram nesta rodada: o Galo da Pajuçara arrancou um empate sem gols com o Internacional, em pleno Beira-Rio; o Verdão do Centro-Oeste, por sua vez, conquistou importante vitória de 1 a 0 no Frasqueirão, no confronto direto com o lanterna ABC. Esta distância dá o seguinte parâmetro: um empate neste sábado é péssimo para ambos; vitória é sinônimo de moral e força na luta contra a degola; derrota é sinônimo de "rebaixamento moral".

De acordo com o Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), referência nacional em probabilidades no futebol brasileiro, Santa Cruz e Náutico têm, na ordem, 92,9% e 97,6% de risco de rebaixamento. O Clássico das Emoções também será Clássico do Desespero.

Roberto Fernandes atribui má fase dos times ao mau planejamento

Léo Lemos/Náutico

Arrumar a casa em uma condição como a dos rivais pernambucanos na segunda divisão nacional é uma tarefa bastante complicada. O técnico Roberto Fernandes, que já salvou o Náutico de três quedas de divisão (em 2007 e 2008, na Série A; em 2010, na Série B), tem a difícil missão de evitar um rebaixamento pela quarta vez. A matemática, por outro lado, obriga o Timbu a vencer os seis jogos restantes na competição para chegar ao "número mágico" da salvação - no caso, 46 pontos. Uma situação, de fato, delicada.

E o comandante alvirrubro não titubeia ao apontar o motivo para a fase desesperadora de Náutico e Santa Cruz: falhas no planejamento para a temporada. "É uma situação triste, mas, sobretudo, é um momento de reflexão. Os três últimos colocados da Série B são exatamente as equipes que mais passam por crises financeiras, por conta de suas próprias incompetências e de um mau planejamento. Nenhum dos outros 17 times da Série B atravessam momentos financeiros tão complicados quanto os de ABC, Náutico e Santa Cruz. No ABC, os jogadores fizeram greve. No Náutico e no Santa Cruz, há a questão dos bloqueios na Justiça", atestou em entrevista coletiva.

Paralelamente a isso, Roberto Fernandes citou o caso do Oeste, que tem menos recursos e menos apelo que os três times citados por ele anteriormente, mas está brigando pelo acesso à Série A. "O maior reforço de qualquer clube hoje é pagar em dia e dar condição digna de trabalho. Aqui se valoriza muito o nome do jogador, mas só badalação não resolve. É preciso ter todo o contexto favorável. O Oeste está brigando pelo acesso. Qual o grande nome? Não tem, mas estão brigando pelo acesso", justificou.

O treinador garante que o elenco timbu trata este jogo como uma final de campeonato. "Uma derrota, em questão de pontuação, torna a nossa missão praticamente impossível", lembrou. E a calculadora está sendo muito usada... "Fiz um levantamento sobre os últimos anos que mostrou times sendo rebaixados com 45 pontos e se salvando com 43 pontos. Fazendo a média, o Náutico vai precisar de, no mínimo, mais cinco vitórias. Assim, a gente chegaria à última rodada analisando se um empate serviria ou se nós iríamos precisar de mais uma vitória", completou.

Para o "clássico dos desesperados", o Alvirrubro da Rosa e Silva não contará com o meia Giovanni, que alegou problemas pessoais e pediu desligamento do clube esta semana, e tem como dúvidas o zagueiro Aislan, que tenta se recuperar de uma lombalgia, e o meia Bruno Mota, que recentemente manifestou o interesse de retornar ao Atlético-PR, clube dono de seus direitos federativos, após o fim do emprestimo para o Náutico. Roberto Fernandes já garantiu que o fator motivacional dos atletas será determinante para a formação dos 11 iniciais.

Marcelo Martelotte destaca importância de trabalhar o lado psicológico dos jogadores

Divulgação/Santa Cruz

Na mesma linha do seu colega de trabalho, o técnico do Santa Cruz sublinhou o lado humano dos jogadores. Marcelo Martelotte trabalhou a mente de seus comandados para o "jogo de seis pontos" deste sábado. É necessário que os atletas tenham noção do peso do próximo compromisso e, ao mesmo tempo, não se abalem com as dificuldades a serem enfrentadas. "Conversamos com os jogadores sobre a importância desse jogo e de tirar proveito do fator casa. Temos que trabalhar a mente dos jogadores e, também, trabalhar da melhor maneira a parte tática", assegurou em conferência de imprensa.

Fernandes e Martelotte compartilham outra coincidência: guardam a sete chaves a escalação para o Clássico das Emoções. Não é para menos. O momento exige sigilo. "É para ter uma privacidade em um momento difícil do campeonato. Você precisa de tranquilidade. Existem situações em que há a necessidade de mudar a equipe, e isso vem de suspensões e até de problemas médicos. Outras necessidades são no que entendo ser o melhor para a equipe. É uma semana de clássico decisivo. O que pudermos utilizar de vantagem, nós iremos", justificou.

As notícias nas Repúblicas Independentes do Arruda são as melhores possíveis para o técnico tricolor. Cinco jogadores que ficaram ausentes do empate sem gols frente ao Luverdense, no sábado passado (28), estão à disposição do comandante coral: O lateral-direito Nininho, o lateral-esquerdo Yuri e o volante Derley voltaram de suspensão, enquanto os meias Natan e Thiago Primão se recuperaram de respectivas lesões no tornozelo direito e na coxa direita.

A única baixa para o jogo é o volante Wellington Cézar, suspenso com três cartões amarelos.

Vale troféu

Ironicamente, o vencedor do clássico deste sábado (4) ganhará uma aquisição para a sua sala de troféus. Trata-se da Taça Gena, que comemora o centenário do Clássico das Emoções e homenageia o ex-lateral-direito Gena, que fez parte do Hexa do Náutico (1963-1968) e do Penta do Santa Cruz (1969-1973). Foi campeão pernambucano, mais precisamente, nos anos de 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970, 1971 e 1973.

Tricolores e alvirrubros já se enfrentaram sete vezes nesta temporada, incluindo a primeira fase da Copa do Nordeste, a primeira fase e a decisão do terceiro lugar do Campeonato Pernambucano e o primeiro turno do Brasileirão Série B. Até agora, duas vitórias para cada lado e três empates. Ou seja, quem vencer neste sábado, leva o troféu para casa. Em caso de nova igualdade no placar, o desempate, de acordo com a Federação Pernambucana de Futebol (FPF), é o número de cartões vermelhos na temporada. Se o empate persistir, o vencedor será definido em sorteio na sede da FPF, na próxima segunda-feira (6). Já pensou?!

Ainda que o momento não inspire comemoração, a homenagem ao monstruoso Gena é super válida. Porém, o ex-jogador revela que gostaria de ser homenageado noutra oportunidade. "Eu não queria esse negócio de taça agora, porque eles estão lá embaixo. (...) Mas eu tive o privilégio de ser o escolhido. Tantos jogadores bons passaram pelos dois times e resolveram me escolher", disse em entrevista ao Jornal do Commercio.