Um evento realizado no Instituto Reação - localizado na Comunidade da Rocinha -, na última terça-feira (7), vai beneficiar milhares crianças e adolescentes provenientes do projeto criado pelo ex-judoca Flávio Canto. Com a presença da lutadora Amanda Nunes, o UFC disponibilizou um investimento de 62 mil reais voltados para o Instituto, que visa principalmente a integração social de crianças e adolescentes através do esporte.
Autor do projeto, Flávio Canto conversou com parte da imprensa logo após o término do evento. O ex-atleta celebrou a presença de Amanda Nunes e ressaltou a importância do Instituto para os jovens da comunidade.
"O Reação tem 17 anos e nós já vimos um monte de histórias legais acontecerem, dentro do tatame e fora dele. A Rafaela ano passado, que foi o ápice de transformação pelo esporte de alto rendimento. O UFC já está com a gente tem alguns anos. Houve uma mudança de donos recentemente e aí ficamos sem saber se eles voltariam. Hoje estão aí, trazendo a Amanda, eu acho que é tão especial quanto o apoio financeiro que eles dão. Acho que dá para os alunos uma sensação de que são capazes de chegar longe. Acho legal essa parceria de trazer ídolos. Ela veio de Pojuba, interior da Paraíba, cresceu em um esporte que nem existia para as meninas, agora é campeã mundial. Às vezes é um dia desses que dá um estalo e faz uma criança acordar."
"Ter gente assim aqui é tudo que eles precisam, esse trabalho que a gente faz é quase uma lavagem cerebral com alguns, falar para eles que o teto não é esse, o teto deles é bem mais alto, que podem ir muito além do que eles imaginam."
"Olimpíada para mim foi a conclusão de um sonho que começou em 2000, não só meu, mas de muita gente que acreditou nisso comigo. O Geraldo, que é o técnico da Rafaela, foi meu técnico, la atrás ele acreditou que a gente poderia pegar a garotada de baixa renda, botar para treinar, fazer transformações grandes. A Rafaela ganhar medalha foi a conclusão disso e a retomada de uma caminhada também. Agora a galera pode olhar pro lado e ver que uma campeã olímpica começou como eles. Não tem mais essa desculpa de vida boa, diferente dos que vivem aqui. E não é só a Rafaela, tem uma galera ae que se formou no ano passado. São vários exemplos que foram construídos aqui." declarou.
Medalha de Bronze na Olimpíada de Atenas, em 2004, o ex-judoca comentou sobre o desempenho do judô brasileiro nos Jogos Olímpicos do Rio.
"Acho que o resultado foi aquém do potencial da equipe. Se for pensar desde o Mundial de 2012, caímos de rendimento até esse ciclo olímpico. Houve um movimento por mudança, então voltamos a ver atletas que não estavam indo tão bem voltando a subir no pódio. Acho que é preciso investimento desde a base para chegar longe. Temos uma preocupação agora com renovação. Em algumas categorias os atletas já estão começando a ver aposentadoria. A gente precisa alimentar uma base pra ver quem é que sai dali e começa a despontar. É um trabalho caro, tem que apostar num grupo, começar a botar para treinar lá fora", alertou.
Flávio também avaliou a situação de Ronda Rousey. Para ele, a lutadora não estava preparada psicologicamente para a derrota.
"Eu acho que a Ronda passou muito tempo vencendo, no esporte é preciso saber conviver com a derrota. Acho que ela já tem uma boa situação, fez seu nome no esporte, pode decidir tranquilamente se para ou continua. Eu tenho uma história diferente da Ronda, cresci perdendo. A Ronda teve uma carreira fulminante, teve muitos méritos, ela é espetacular, construiu a história das mulheres no UFC. Para um atleta que não está acostumado a perder, recuperar a confiança não é fácil."