São cinco títulos mundiais colocados na mesa. O peso de duas das camisas mais vitoriosas da história do futebol. De um lado, um planejamento à longo prazo, a eficiência de um grupo de jogadores que levam o coletivo ao mais alto patamar, e a frieza de um bom europeu. No outro, a típica catimba sul-americana representada por seus melhores escudeiros, o talento do melhor jogador do mundo em quatro oportunidades e a improvisação de quem precisa de apenas um lance para matar a partida. No dia 13 de julho, Alemanha e Argentina se enfrentam pela final da Copa do Mundo, mais uma vez.

Ao todo, esta é a terceira final de Mundial em toda a história, configurando-se a o clássico que mais vezes decidiu uma Copa do Mundo, com empate e uma taça para cada lado. Em 1986, coube ao 'Diós' Diego Armando Maradona fazer chover no México para que a Argentina levantasse seu segundo título. Já em 1990, apenas quatro anos depois, as seleções voltaram a se enfrentar em uma decisão. Mas dessa vez, Lothar Matthäus faria o possível para que a história se invertesse, fazendo com que a Alemanha saísse triunfante.

Durante a história, europeus e americanos se enfrentaram em 20 oportunidades, com vantagem para os hermanos nos confrontos diretos. São nove vitórias (45% no total), contra seis triunfos germânicos (30%) e outros cinco empates (25%). Já em Copas do Mundo, o quadro se inverte e são os alemães que mandam na freguesia. Em seis confrontos são três triunfos (50%) para os tricampeões, contra apenas dois empates (33%) e uma única vitória do rival em questão (17%).

Competições Jogos Alemanha Empate Argentina
Copa do Mundo 6 3 2 1
Amistosos 12 3 2 7
Copa das Confederações 1 0 1 0
Mundialito da Fifa 1 0 0 1

Em 2014, temos dois opostos decidindo o Mundial. A Alemanha, que iniciou seu trabalho com um elenco jovem ainda na Copa do Mundo de 2006, chega como favorita e munida por um excelente toque de bola. Já a Argentina, mais vertical, porém sem apresentar um futebol espetacular, confia no talento de Lionel Messi para fazer história e conquistar o tricampeonato dentro do Brasil, seu maior rival. A decisão será no próximo domingo (13), às 16h, no Maracanã.

Na primeira final, 'Diós' leva a Argentina aos céus

(Foto: Divulgação/Fifa)

Assim como o cenário atual, a Alemanha tinha um dos mais fortes elencos do mundo. Em seu plantel, Karl-Heinz Rummenigge - um dos maiores atletas da história - ditava o ritmo de uma equipe eficiente em tudo que fazia, acompanhado de Rudi Vöeller, Pierre Littbarski, Hans-Peter Briegel, Karl-Heinz Foerster e tantos outros craques. Porém, do outro lado, havia um gênio - mais coincidências com o cenário atual - chamado Diego Armando Maradona, já considerado um dos melhores jogadores da história, e que vinha fazendo o impossível por cada estádio que passava, até chegar naquela decisão.

O palco era o estádio Azteca, na Cidade do México, que 16 anos anos havia recebido outro deus do futebol e dado a ele a glória máxima de uma Copa do Mundo pela terceira vez em sua carreira. Coincidências da vida, ou parte do grande charme do esporte, se repetiria tal façanha com Maradona. Com excelente atuação, a Argentina já havia feito 2 a 0 no placar, com gols de Brown e Valdano, com 55 minutos de bola rolando. Após vários milagres, ninguém duvidaria o que título trocaria de mãos. Porém, coube a Franz Beckenbauer - treinador na ocasião - mexer em sua equipe e igualar a fatura, em apenas seis minutos. Rummenigge, aos 29, e Völler, aos 35, empataram para os alemães.

Mas o futebol tem seus caprichos, e o estádio Azteca guardaria à Diego Maradona o lance capital daquela decisão. O cronômetro marcava 40 minutos do segundo tempo, quando o bem marcado camisa 10 argentino se desmarcou e precisou de apenas um toque na bola para deixar Burruchaga livre, com apenas o goleiro alemão Schumacher à sua frente. Após uma arrancada e um toque com categoria, o placar de 3 a 2 coroaria aquela geração argentina, lembrada até hoje como uma das melhores da história. Em 2014, a responsabilidade cai nos ombros de outro camisa 10: Lionel Messi. O adversário é o mesmo, a diferença técnica também, e a história pode se repetir.

Confira a tabela da Argentina na Copa do Mundo de 1986
Primeira rodada - 2 de junho - Cidade do México - Argentina 3 x 1 Coréia do Sul
Segunda rodada - 5 de junho - Puebla - Itália 1 x 1 Argentina
Terceira Rodada - 10 de junho - Cidade do México - Argentina 2 x 0 Bulgária
Oitava de final - 16 de junho - Puebla - Argentina 1 x 0 Uruguai
Quarta de final - 22 de junho - Cidade do México - Argentina 2 x 1 Inglaterra
Semifinal - 25 de junho - Cidade do México - Argentina 2 x 0 Bélgica
Final - 26 de junho - Cidade do México - Argentina 3 x 2 Alemanha Ocidental

Confira os melhores momentos da decisão

Quatro anos depois, Lothar Matthäus comanda a revanche

De 1986 para 1990, o nome de Diego Maradona seria idolatrado na Itália, palco da próximo sede da Copa do Mundo. Pelo Napoli, o argentino faria do possível e impossível, levando o clube a títulos e glórias. No Mundial, o camisa 10 não apresentava a melhor de suas condições físicas, mas amedontrava qualquer defensor que o tivesse pela frente. Em toda via, havia um homem naquela final de 86 que não sairia ileso, mas tornaria-se o diferencial para 90. Lothar Matthäus, que cometeu uma falta boba no lance que gerou o primeiro gol argentino, havia disputado sua primeira final de Copa do Mundo. Quatro anos depois, tornaria-se o capitão, camisa 10 e jogaria sua segunda Copa.

Durante o Mundial, a Alemanha manteve seu estilo padrão: não encantava com talentos individuais, mas era objetiva no coletivo, assim como em 1986, assim como em 2014. Lothar Matthäus assumiria um posto importantíssimo nesta seleção, onde controlava o meio-campo e levava a esquadra ao ataque, era o termômetro, quem ditava o ritmo, assim como Toni Kross, no elenco atual. Já a Argentina, diferente daquela que encantou o mundo quatro anos atrás, chegava à decisão aos trancos em barrancos, sofrendo com partidas difíceis e colocando todas as suas esperanças na dupla Maradona e Caniggia, algozes brasileiros nas oitavas de final daquele Mundial.

Na decisão, o clima de revanche era iminente e Maradona, decisivo na outra ocasião, era duramente - no sentido literal - marcado. O esquema ofensivo alemão, batia de frente com a catimba argentina, que se trancou no campo de defesa, explorando os contra-ataques e aguardava o tempo passar. Porém, toda a retranca foi desmontada aos 40 minutos da segunda etapa, quando Matthäus acertou um ótimo passe para Völler, que foi derrubado na área por Sensini. Pênalti. Após o lance, veio o desmanche hermano no seu tom mais histórico. Monzón e Dezotti foram expulsos, mas de nada adiantou. Brehme cobrou com categoria, no canto direito do arqueiro Goygochea. Placar de 1 a 0, o suficiente para coroar o tricampeonato da Alemanha.

Confira a tabela da Alemanha na Copa do Mundo de 1990
Primeira rodada - 10 de junho - Milão - Alemanha Ocidental 4 x 1 Iugoslávia
Segunda rodada - 15 de junho - Bolonha - Alemanha Ocidental 5 x 1 Emirados Árabes
Terceira rodada - 19 de junho - Milão - Alemanha Ocidental 1 x 1 Colômbia
Oitava de final - 28 de junho - Alemanha Ocidental 1 x 0 Países Baixos
Quarta de final - 1 de julho - Milão - Alemanha Ocidental 1 x 0 Tchecoslováquia
Semifinal - 4 de julho - Turim - Alemanha Ocidental 1 (4) x (3) 1 Inglaterra
Final - 8 de julho - Roma - Alemanha Ocidental 1 x 0 Argentina

Confira os melhores momentos da decisão

Nas duas quadrifinais, dois triunfos alemães

A história de Alemanha e Argentina em Copas do Mundo não é destinada a apenas decisões. O Mundial de 2014 marca a terceira vez seguida que as seleções se enfrentarão durante a competição. O Maracanã estará repleto de tabus no próximo dia 13 de julho, pois em 2010 e 2006, os alemães levaram a melhor nos dois confrontos, ambos na fase de quartas de final.

Em 2006, a Alemanha jogava em casa, mas passou sufoco para conseguir triunfar diante de uma guerreira Argentina. Comandado por Jürgen Klinsmann, que esteve presentes naquela decisão de 1990, os germânicos tinham Michael Ballack como principal estrela, munido de um Miroslav Klose em ótima forma, já como um dos maiores artilheiros da história das Copas do Mundo. Porém, foram os hermanos que saíram na frente no placar, com gol de Ayala, após escanteio cobrado por Juan Román Riquelme, para silêncio no Olympiastadion, em Berlim.

Após muito sofrimento, o empate sairia aos 35 minutos, após Borowski desviar o cruzamento de Ballack, ajeitando para Klose estufar as redes argentinos. Delírio do treinador e de todos os torcedores presentes no estádio. Com uma prorrogação monótona e sem grandes oportunidades, vieram os pênaltis. Foi o momento do arqueiro Jens Lehmann brilhar. Na marca fatal, as penalidades cobradas por Ayala e Cambiasso pararam em suas mãos, garantindo os donos da casa nas semifinais.

(Foto: Getty Images)

Já no Mundial da África do Sul, a palavra equilibrio, tão presente e comentada no confronto de 2006, era impossível de ser propagada nas quartas de final da Copa do Mundo de 2010. Simplesmente um chocolate alemão, em conceitos técnicos e táticos. A Argentina, liderada por Lionel Messi e com Diego Maradona no banco de reservas, não teve o que fazer diante de tamanha superioridade e se despediu da competição com um sonoro 4 a 0 na bagagem. Grande parte dessa geração da Alemanha esteve presente neste confronto, muitos vieram para o Brasil e estarão na Rússia em 2018. Foi o início de um ciclo.

O placar foi aberto com Thomas Müller, ainda no primeiro tempo, quando aproveitou a falta cobrada por Bastian Schweinsteiger e desviou o suficente para enganar Romero e sair para a comemoração. Bastian também teve presença no segundo e no terceiro tento alemão. Foi dele a grande arrancada e o passe preciso para Klose marcar, além da bela sequencia de dribles antes de rolar para Friedrich ampliar, respectivamente. O caixão foi fechado por Klose, que balançou a rede pela segunda vez e decretou números finais ao confronto.

(Foto: Getty Images)

Primeiros duelos em 1958 e 1966

O histórico de confrontos entre Alemanha e Argentina teve início em 1958, na Copa do Mundo na Suécia. Comandados por Uwe Seeler e Helmut Rahn, os atuais campeões mundiais eram uma das equipes mais temidas do mundo e não tiveram trabalho para derrotar por 3 a 1 a Argentina, que apesar de ser conhecida por ser uma seleção leve, e com bons talentos individuais, não conseguiu ter corpo para realização de um trabalho em grupo e logo sucumbiu no Mundial. Os alemães não conseguiram o bicampeonato e encerraram sua participação com derrotas pela Suécia, nas semifinais, e pela França, na disputa de terceiro lugar.

Já em 1966, durante a Copa do Mundo na Inglaterra, a Argentina mostrou seu valor ao empatar por 0 a 0 com a Alemanha, ainda na primeira fase da competição. Porém, os méritos não estão apenas no placar de igualdade, mas sim por conseguir segurar o ímpeto de seu adversário, que já naquele ano formaria a base de uma das maiores seleções da história, com jogadores como Uwe Seeler e Karl-Heinz Schnellinger, do jovem Wolfgang Overath, do ainda inexperiente goleiro Sepp Maier, e daquele que viria a ser um dos maiores atletas da história do futebol mundial: Franz Beckenbauer.