O técnico Abel Braga prometeu que o Fluminense mudaria sua forma de jogar para 2018. Segundo o próprio treinador, seria 'algo diferente do que já foi visto'. Essa grande novidade veio na mudança tática: saiu o 4-1-4-1 e entrou o 3-5-2. Na teoria, o comandante tricolor busca equilibrar sua equipe e cuidar da parte defensiva - maior problema enfrentado em 2017. Após seis jogos, as mudanças trouxeram mais dúvidas que soluções.

O novo alinhamento é conhecido: Gum, Renato Chaves e Ibañez formam o trio de zagueiros, com Gilberto e Marlon (Ayrton Lucas) nas alas. Ainda, um triângulo à frente com Jadson, Douglas e Sornoza. Não há esquema certo ou errado, mas ideias possíveis de serem colocadas em prática. Então, começa a discussão: o Fluminense tem jogadores capazes de articular um plano de jogo com três zagueiros?

O esquema 3-5-2 de Abel Braga precisará de entrosamento e tempo para ser assimilado, mas também dispor de jogadores capazes de executá-lo. Para isso, é preciso seguir obediências táticas básicas: jogadores com bom passe, versatilidade e inteligência para propor o jogo e intensidade para ocupar espaços. No Fluminense, todos esses fatores parecem estar em falta. Há acertos claros, como a melhoria na bola área defensiva, mas o poder ofensivo deixa a desejar.

Os zagueiros Gum e Renato Chaves têm bastante dificuldade na saída de bola. Com isso, o time se torna lento, os laterais não conseguem avançar e os volantes precisam voltar para dar opção. É comum ver Jadson e Douglas organizando a saída na linha de zaga, e isso acaba gerando consequências. Os volantes passam a jogar mais recuados, o que favorece uma marcação mais adiantada do adversário. Ainda, isso cria inferioridade numérica no meio-campo, e Sornoza fica isolado à frente sem muita ligação. O problema, portanto, começa atrás.

(Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC)
Ibañez foi revelado em 2017, mas teve oportunidades no profissional este ano (Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC)

A diferença de qualidade na saída de bola de Ibañez é nítida, tanto que se destaca em comparação com os companheiros de setor. Volante de origem, tem facilidade na bola longa e confiança para avançar. É o zagueiro que desafoga a defesa, muitas vezes encontrando os volantes em boas condições ou percebendo bem o avanço dos laterais. O problema é: apenas um jogador capaz disso é muito pouco.

Abel Braga conhece seu elenco e pode buscar solução no passado: o Fluminense de 2005, que era treinador por ele, tinha três zagueiros. Na ocasião, Antonio Carlos e Fabiano Eller saiam bem com a bola e Marcão fazia a função de 'líbero'. Airton e Richard são dois volantes com boa altura e saída de jogo, podendo cumprir essa função. Na defesa, Reginaldo é outro que pode somar.

A aposta por um estilo de jogo "reativo", que use as roubadas de bola como principais chances de gol, é viável, mas precisa de adequações na sua construção. Também é preciso pensar se há a possibilidade de executá-la. Os melhores 45 minutos do Fluminense em 2018 foram contra o Botafogo, quando a equipe voltou para o tradicional 4-1-4-1.  Abel tem as cartas na mesa, mas precisa encontrar uma solução.

No Brasileirão de 2016, o Fluminense chegou a ter a defesa menos vazada do torneio após a virada para o segundo turno, e isso com dois zagueiros. Claro que o esquema 3-5-2 pode dar certo, mas um bom sistema defensivo não se limita necessariamente à adição de mais jogadores à frente do goleiro e sim a uma disposição correta dos atletas em campo e, acima de tudo, organização defensiva.

(Foto: Nelson Perez/Fluminense FC)
(Foto: Nelson Perez/Fluminense FC)