Incoerência, divergências e irresponsabilidade: a volta do Cariocão é um erro

Ainda sem o achatamento da curva no Rio de Janeiro, é equivocada a flexibilização comercial e esportiva. Pressão financeira atropela questões éticas

Incoerência, divergências e irresponsabilidade: a volta do Cariocão é um erro
Foto: Reprodução / @Maracanã
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Por Gabriel de Oliveira Costa

Não é novidade que o segundo estado mais prejudicado pela Pandemia de Covid-19, no Brasil, é o Rio de Janeiro. Com 79.572 casos confirmados e 7.672 mortes divulgadas, os cariocas têm mais vítimas em óbitos do que a China, o país mais populoso do mundo (4.634 mortes no país asiático). A cidade que tem o Prefeito Marcelo Crivella iniciando a flexibilização comercial, confirma hoje a retomada do Cariocão, com jogo ao lado de um Hospital de Campanha, no estacionamento do Maracanã.

O retorno do futebol já era desenhado há pelo menos dois meses. Na segunda semana de abril, a Ferj aprovou um modelo denominado "Jogo Seguro", onde médicos e profissionais da saúde criaram procedimentos para higienizar a equipe e instalações de seus respectivos clubes, com supervisão interna. Desde a metade de maio, alguns clubes cariocas retomaram as atividades em campo, ainda que de início, o argumento fosse para trabalhos de fisioterapia.

Incoerência

Um ponto determinante nesses capítulos de interesses pessoais acima dos fatores que realmente trariam mais apelo social, são as incoerências. Os líderes políticos do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella e Wilson Witzel, Prefeito e Governador respectivamente, permitiram o relaxamento social com a reabertura de shopping´s, lojas e empresas, além claro, de pecar na fiscalização do não cumprimento popular de um decreto, em meio ao lockdown anteriormente.

Já diagnosticado com Covid, Witzel é conivente com o afrouxamento social no Rio (Foto: Jovem Pan)
Já diagnosticado com Covid, Witzel é conivente com o afrouxamento social no Rio (Foto: Jovem Pan)

Enquanto o Rio de Janeiro sozinho tem mais óbitos por Covid-19 do que a China inteira, pessoas ganham passe livre para se aglomerarem sem serem testadas em grandes praças públicas, e para complementar, terão um motivo extra: as partidas de futebol.

Retomada do futebol

No país que só perde para os Estados Unidos em casos registrados, e há mais de 20 dias não existe um representante para o Ministério da Saúde, vimos um show de horrores por parte da gestão administrativa de alguns clubes.

De início, os principais clubes do Rio criaram um racha, tendo Flamengo e Vasco de um lado, contra Botafogo e Fluminense de outro. A dupla mais popular carioca lidera a pressão na FERJ, que também tem o aval de todos os pequenos públicos para trabalharem a retomada do futebol. Até aí beleza, mas diante de grande indefinição, com ameaça de decisão judicial por parte da dupla em oposição, menos de 48h foi o tempo necessário para definirem: horário, data e local para o reinício da competição.

A grande questão não é a volta do futebol, que independente da região no país, ela deverá ser retomada nos próximos meses, mas sim como essa decisão foi tomada. Relatado na mídia, vimos grupos de WhatsApp, exclusão de Presidentes de clubes, piadinhas do Presidente da República, que inclusive vai estar presente na partida de Flamengo x Bangu no Maracanã, é notório um cenário de amadorismo, onde o próprio umbigo vale mais do que a responsabilidade social de cada clube.

Sem qualquer previsão de controle da situação de Pandemia, o Rio de Janeiro caminha para o fim do isolamento, e apesar de ser o vice-líder do triste ranking de contaminados no Brasil, voltará a ter seu campeonato realizado antes de quaisquer outro torneio nacional e sul-americano, em um modelo totalmente contrastado com a seriedade trazida pela Bundesliga, La Liga, Serie A italiana e agora a Premier League.