Há 20 anos, Atlético-MG batia Lanús-ARG e conquistava bicampeonato da Copa Conmebol

Em oito jogos, jogando bom futebol e lutando contra a violência na decisão, Atlético levantou o segundo título da Copa Conmebol

Há 20 anos, Atlético-MG batia Lanús-ARG e conquistava bicampeonato da Copa Conmebol
Foto: Divulgação/Atlético-MG
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Por Vinícius Silveira

No dia 17 de dezembro de 1997, o Atlético-MG sagrou-se bicampeão da Copa Conmebol, ao derrotar o Lanús-ARG, em duas partidas na grande decisão. O time de Marques, Valdir, Jorginho e o técnico Emerson Leão conquistou o título de forma invicta. Relembre aqui, na VAVEL Brasil, o bicampeonato atleticano.

Para os mais atuais, a Copa Conmebol é a hoje Copa Sul-Americana. A comparação se dá, unicamente, pela forma de disputa. Em caráter eliminatório, indicava os classificados para o torneio as equipes que não conseguiram vaga para a Copa Libertadores da América. Não dava vaga para a Libertadores do ano seguinte, e ainda trouxe para o torneio os campeões das Copas Norte e Nordeste, Rio Branco-AC e Vitória-BA, respectivamente.

O Atlético chegou a Copa Conmebol após terminar em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de 1996. A disputa da Conmebol era a chance de terminar bem um ano que não foi dos melhores para o Galo. O time contratou jogadores do renome nacional, mas fracassou tanto do Estadual quanto na Copa do Brasil.

No fim do primeiro semestre, o Atlético fez uma grande reformulação. Dispensou diversos jogadores, dentre eles, Márcio Santos, Evair e Valdeir, além do técnico Eduardo Amorim. E contratou bons jogadores, mas pouco utilizados em seus clubes, como Jorginho, Marques e Valdir.

Mesmo conquistando a Copa Centenário de Belo Horizonte, no Brasileirão, o Atlético andava mal das pernas. Era o décimo colocado e realizava uma campanha irregular. Com este panorama, o Galo estreou na Copa Conmebol contra a Portuguesa.

Atlético estreia contra algoz do Brasileirão de 1996

A estreia do Atlético na Copa Conmebol foi contra a Portuguesa, equipe que eliminou o Galo do Campeonato Brasileiro de 1996 nas semifinais. Em 1997, a equipe paulista havia perdido vários jogadores e não demonstrou a mesma força. No Canindé, o alvinegro não deu chances, e venceu por 4 a 1. Na segunda partida, o empate sem gols garantiu o time mineiro na próxima fase.

Nas quartas de final, o Atlético enfrentou o América de Cali-COL. Novamente abrindo a fase fora de casa, o Galo venceu por 2 a 1, trazendo para Belo Horizonte a vantagem do empate. No Mineirão, o time colombiano chegou a abrir o placar, mas o alvinegro empatou, fechando a segunda partida em 1 a 1, garantindo a vaga para a semifinal.

O adversário da vez era o Universitário-PER. Jogando a primeira partida em Lima, capital peruana, o Atlético venceu por 2 a 0. Na partida de volta, o Galo não deu chances e goleou por 4 a 0, sacramentando a terceira decisão de Copa Conmebol do clube na história do torneio.

Futebol e violência: é a decisão da Copa Conmebol contra o Lanús-ARG

Lanús-ARG e Atlético abriram a final da Copa Conmebol no Estádio La Fortaleza, em Lanús. Os dois times brigavam pelo bicampeonato do torneio. O time argentino tinha vencido em 1996, e o Galo, em 1992.

Durante os 90 minutos, a partida foi disputada, com lances de perigo para os dois lados. O Lanús saiu na frente com Ibagaza. O Atlético cresceu na partida, e no final do primeiro tempo, Bruno empatou em chute de longe e falha do goleiro Rómoli. No segundo tempo, só deu Galo. Serrizuela, contra, Hernani e Valdir completaram a goleada, 4 a 1 para o time mineiro.

Ao final da partida, os jogadores, comissão técnica e torcedores partiram para cima dos atleticanos, iniciando uma briga que rendeu graves consequências, principalmente, para o técnico Emerson Leão. Na tentativa de defender e tirar seus atletas da confusão, Leão levou um soco no rosto de Carlos Miozzi, diretor do clube argentino. Na volta a Belo Horizonte, o treinador, que teve uma fratura no osso malar (osso da maçã do rosto) fez uma cirurgia onde colocou placas de titânio em três partes da lesão.

O volante Doriva levou um soco. Roberto foi encurralado na grade, foi agredido por jogadores e levou chutes de torcedores. O lateral-esquerdo Dedê levou um soco na cabeça e desmaiou. O zagueiro Sandro Blum foi atingido com pauladas.

Após mais um mês, Atlético confirma título ao empatar com Lanús-ARG

A segunda partida estava marcada para o dia 26 de novembro. No entanto, temendo reações de torcedores atleticanos aos argentinos, a Polícia Militar de Minas Gerais chegou a recomendar que a partida não fosse realizada na data acertada. Se caso o jogo acontecesse, a delegação do Lanús deveria ter segurança acima da média.

No dia 17 de dezembro de 1997, com direito a 600 policiais no Mineirão, Atlético e Lanús voltaram a campo para decidir quem levaria o título da Copa Conmebol. Alguns jogadores do time argentino, caso do zagueiro Ruggeri não entraram em campo temendo reações violentas. Apesar dos gritos intimidadores da torcida atleticana, a partida aconteceu sem atos de violência.

Foto: Reproduçãp

O Atlético saiu na frente com Jorginho, após escanteio cobrado da direita. O título era uma questão de tempo. Mesmo com o gol de empate argentino, marcado por Trimarchi, tirou a festa dos atleticanos. Ao final da partida, a festa foi título tomou conta dos torcedores atleticanos no Mineirão, e nas ruas de Belo Horizonte.

Nomes importantes do Atlético não ficaram para 1998

Apesar da conquista da Copa Conmebol e da expectativa do ano de 1998 mais positivo, o Atlético perdeu nomes importantes do clube, tendo que reformular o elenco para a temporada que viria pela frente. O desfalque mais sentido foi do técnico Emerson Leão, que havia acertado contrato com o Santos, por um interesse de ficar mais próximo da família, que morava em São Paulo.

Outra peça importante da conquista atleticana na Conmebol foi o atacante Valdir. O jogador estava emprestado junto ao São Paulo. E o artilheiro do torneio e da temporada atleticana retornou ao Morumbi. O passe do camisa 7 estava avaliado em R$ 5 milhões.

Jorginho, meia que encontrou seu melhor momento na carreira no Atlético-MG, era dono do próprio passe e poderia renovar, mas optou por seguir para o Santos com Emerson Leão, que o indicou para o Galo no meio de 1997.

O volante Doriva foi vendido para o Porto-POR, por US$4 milhões. O jogador, que estava no Atlético-MG desde 1995, vivia seu melhor momento na carreira, com seguidas convocações para a Seleção Brasileira, do técnico Zagallo.

Outras peças também saíram do clube. O lateral-direito Dedimar e o atacante Almir, que estavam emprestados ao Atlético, retornaram aos seus clubes. O zagueiro Luiz Eduardo também deixou o time. O goleiro Paulo Cesar Borges seguiu para o Cruzeiro.

Marques: atacante fica no Atlético em negociação com o Cruzeiro

Talvez alguns atleticanos - os mais novos, por exemplo - desconheçam esta história. Ao final da temporada, o atacante retornaria ao Flamengo, time que era dono de seu passe. Porém, por muito pouco, o "Calango" apelido dado por Romário, não vestiu a camisa do Cruzeiro, maior rival do Atlético, em 1998.

O Flamengo contratou o atacante Cleisson, do Cruzeiro, e envolveu Marques na negociação com o clube celeste. Para ter o camisa 9 de volta - e não vê-lo com a camisa cruzeirense - o Atlético acertou a compra do jogador por R$ 2,8 milhões, que foram pagos diretamente ao time cinco estrelas, em três parcelas durante o ano de 1998.

No fim de 1998, o então vice-presidente do Cruzeiro, Alvimar Perrella deu declarações dizendo que levaria Marques para o time celeste, em 1999, caso o Atlético não pagasse a última parcela. De acordo com o site do jornal Folha de S. Paulo, o Galo não tinha dinheiro para pagar, e o valor - R$ 480 mil - veio de um empréstimo do piloto de Kart, Thiago Laborne, que pediu ao pai, o empresário João Lucas Laborne, que antecipasse a verba da temporada de Kart que seria paga pela Cetibras, concessionária Fiat. Com o dinheiro em mãos, a diretoria alvinegra quitou o pagamento do passe de Marques.

E a Copa Conmebol, o que virou depois de 1997?

Assim como muitas competições, a Copa Conmebol foi mais uma a ser extinta pela Confederação Sul-Americana de Futebol, em 1999. A entidade havia apostado em um segundo torneio, semelhante a Copa da UEFA, hoje, Liga Europa.

Nos anos seguintes, a Copa Mercosul foi o torneio secundário da Conmebol, mas foi extinto em 2001. Desde 2002, a Copa Sul-Americana completa o calendário sul-americano. Com o passar dos anos, e com a adição de bonificações como a garantia de disputas da Copa Libertadores da América, Recopa Sul-Americana e Copa Suruga, o torneio vem ganhando respeito das equipes a cada ano.