Guia VAVEL do Brasileirão Série B 2018: Guarani

Depois de aprendizado na temporada passada e título estadual, Bugre entra na segunda divisão motivado para brigar pelo acesso

Guia VAVEL do Brasileirão Série B 2018: Guarani
Arte: Rodrigo Rodrigues/VAVEL Brasil
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Por Diogo Magri

De uma segunda divisão sem nenhum representante dos considerados 12 maiores clubes do Brasil, se espera duas coisas: mais equilíbrio e atenção voltada para equipes menos tradicionais. Do segundo caso se privilegia o Guarani. O time de Campinas é, juntamente com o Coritiba, o único campeão da elite nacional a disputar a edição de 2018 da Série B nacional. Se reestruturando para voltar à primeira divisão, onde passou brevemente pela última vez em 2010, e embalado por uma conquista estadual, o Bugre começa a segundona com um time organizado, um ataque talentoso e a promessa de brigar na parte de cima da tabela.

Campanha até aqui em 2018

O aproveitamento, por enquanto, está bom: o Guarani venceu o único campeonato que jogou até aqui, a Série A-2 do Campeonato Paulista. Anunciando que não ficaria com o treinador Lisca, que ajudou o clube a se salvar do rebaixamento para a Série C em 2017, o Bugre iniciou o ano com um planejamento ousado, que incluía Fernando Diniz como treinador. No entanto, uma oferta da primeira divisão, do Atlético-PR, seduziu Diniz no começo de janeiro e fez o treinador abandonar a pré-temporada campineira. Umberto Louzer, auxiliar do clube desde o ano passado, assumiu as funções.

Por conta da mudança em cima da hora, a equipe sofreu um pouco no começo da competição, acumulando duas derrotas nos três primeiros jogos e uma clara instabilidade defensiva. Mas, quando embalou, foi longe: nove vitórias nas últimas 12 partidas (apenas um empate) levaram o Bugre ao primeiro lugar geral da fase de grupos. Nas semifinais, sofreu um pouco para bater o XV de Piracicaba por 1 a 0 no agregado e garantir a vaga na A-1 de 2019. Na final, uma atuação de gala contra o Oeste rendeu o título: 4 a 0. Bruno Mendes, nove gols, foi o vice-artilheiro do campeonato, enquanto Bruno Nazário foi o melhor jogador.

Guarani começou o ano com título da Série A-2 do Paulista (Foto: Divulgação/Guarani)
Guarani começou o ano com título da Série A-2 do Paulista (Foto: Divulgação/Guarani FC)

Contratações

Para a temporada 2018, alguns reforços importantes, que vieram principalmente sob a batuta de Fernando Diniz, já encaixaram no time; é o caso do goleiro Bruno Brígido (emprestado do Coritiba), do zagueiro Fernando Lombardi, do volante Ricardinho, do meia Rondinelly e do atacante Erik. Lucas Kal e Pedro Bortoluzo, emprestados do São Paulo, encorpam o elenco. O Bugre ainda estendeu o empréstimo dos seus dois principais jogadores, Bruno Mendes e Bruno Nazário, do Deportivo Maldonado e do Hoffenheim, respectivamente.

Depois do título, o clube já iniciou os preparativos para a Série B. Rafael Franco, lateral vindo do Juventus, Guilherme, meia do Ituano, e Anselmo Ramon, que estava no Hangzhou Greentown, foram anunciados. Edson Silva, zagueiro que jogou o Paulista pelo Mirassol, também reforça a equipe. Por fim, Bruno Xavier, artilheiro da Série A-2, e Thiaguinho, ambos do Nacional, são especulados no Corinthians, mas devem seguir em empréstimo ao Bugre nesta temporada.

Time-base: Bruno Brígido; Lenon, Fernando Lombardi (Edson Silva), Philipe Maia e Marcílio; Baraka, Ricardinho e Rondinelly; Bruno Nazário, Erik e Bruno Mendes.

Experiente zagueiro Edson Silva é um dos reforços dos campineiros para a Série B (Foto: Divulgação/Guarani)
Experiente zagueiro Edson Silva é um dos reforços dos campineiros para a Série B (Foto: Divulgação/Guarani FC)

Campanha em 2017

A Segunda Divisão feita pelo Guarani em 2017 tem muito o que ensinar ao clube no que diz respeito às expectativas de torcida e diretoria. Ano passado, depois de um ótimo primeiro turno no qual chegou até a liderar a competição, o time passou por uma pequena oscilação que, assim que saiu do G-4, culminou na demissão do treinador Vadão. Na época, a desculpa para tirá-lo do cargo foi que o Bugre teria time para brigar pelo título. Não tinha. Marcelo Cabo assumiu, não ganhou nenhum dos seis jogos seguintes e foi demitido. Lisca foi escolhido para salvar o clube de um desastroso rebaixamento para a Série C. Acabou dando certo, mais na vontade do que na qualidade; o Bugre terminou em 16º, com o mesmo número de pontos do rebaixado Luverdense.

Bugre chegou a liderar, mas se salvou por pouco do rebaixamento à Série C em 2017 (Foto: Divulgação/Ceará SC)
Bugre chegou a liderar, mas se salvou por pouco do rebaixamento à Série C em 2017 (Foto: Divulgação/Ceará SC)

O que esperar?

Diferentemente do ano passado, o Guarani entra na Série B motivado e em boa fase. O desempenho será condicionado a certas atitudes de quem manda no futebol do clube. Se o trabalho de Louzer e os principais jogadores forem mantidos mesmo nas esperadas oscilações, a expectativa é de que o Bugre brigue na parte superior da tabela; quem sabe, pelo acesso.

A Primeira Divisão precisa ser o objetivo, mas é importante ressaltar que não é saudável para o clube dar um passo maior do que as pernas - visto os últimos anos, é fundamental para a reestruturação do Guarani a nível nacional ter uma base concreta na qual se possa construir um planejamento em cima, mesmo que isso signifique passar alguns anos na segundona, que já garantiria uma receita anual fixa. O que deve ser evitado, acima de tudo, são medidas inconsequentes a curto prazo, pois são essas que levaram o clube às ‘temporadas na gangorra’, comuns nos últimos anos, quando os bugrinos subiam, caiam, despencavam, voltavam e caiam de novo.

(Foto: Divulgação/Guarani)
Torcida espera uma Série B mais tranquila em 2018 (Foto: Divulgação/Guarani FC)

Destaque: Bruno Nazário

Nazário é peça fundamental do Bugre (Foto:Gabriel Ferrari/Guarani FC)
Nazário é peça fundamental do Bugre (Foto:Gabriel Ferrari/Guarani FC)

O melhor jogador do Guarani é também o melhor jogador da Série A-2 e já está na mira de clubes como Corinthians e São Paulo. Bruno Nazário é meia, canhoto, tem bom passe, agilidade e finalização como maiores qualidades. O jogador de 23 anos foi revelado pelo Figueirense, comprado pelo Hoffenheim, da Alemanha, e repassado por empréstimo ao Cruzeiro e, desde o ano passado, ao Guarani.

A identificação foi tanta que, por desejo de Nazário, o clube alemão renovou o contrato de empréstimo com o Bugre no começo de 2018, mesmo com a concorrência de clubes da Série A que ofereceram o dobro do salário. O destaque, entretanto, tem prazo de validade: o contrato se encerra em junho. O jogador manifestou a vontade de ficar, mas deixou claro que desta vez não depende só dele. Caso saia, o posto de referência no time será ocupado pelo atacante Bruno Mendes, artilheiro revelado em Campinas e com passagens por Botafogo, Atlético-PR e futebol português - este tem contrato até dezembro.

Ponto forte x ponto fraco

Com Bruno Nazário e Bruno Mendes no ataque, fica difícil eleger outro setor como ponto forte. Os dois se encaixaram muito bem com Erik, que joga mais aberto pela esquerda, e, com Rondinelly na armação, prometem incomodar qualquer defesa na Série B. Anselmo Ramon, Denner e Bruno Xavier ainda são peças ofensivas interessantes para o elenco.

A posição que mais merece atenção do treinador Louzer é a defesa: a equipe perdeu seu melhor zagueiro, William Rocha, vendido para o Japão, e viu a promessa são-paulina Lucas Kal decepcionar quando jogou. É verdade que a dupla substituta, Lombardi e Philipe Maia, foi bem nas decisões, mas os dois ainda enfrentam desconfiança; não a toa, a diretoria foi atrás de Edson Silva. Durante o estadual, o Guarani tomou 18 gols nos 15 primeiros jogos, a pior defesa entre os classificados ao mata-mata. Ao menos, Lenon, Marcílio (laterais) e Baraka (volante) têm sido jogadores defensivos consistentes.

Fique de olho: Erik

23 anos, baixinho, destro e joga pela esquerda: apesar de ser o menos badalado do ataque bugrino, Erik pode ser a surpresa da segunda divisão. Revelado pelo Grêmio, o atacante veio para o Bugre após jogar pela Luverdense em 2017. Não se engane pela camisa 8 que ele veste, característica de volantes; Erik é um ponta incisivo, que gosta de arriscar e concluir jogadas dentro da área. Na A-2, foram cinco gols do atacante.

Treinador: Umberto Louzer

Louzer assumiu sob desconfiança, mas já garantiu um título (Foto: Letícia Martins / Guarani Press)
Louzer assumiu sob desconfiança, mas já garantiu um título (Foto: Letícia Martins / Guarani Press)

É difícil se lembrar de um treinador que tenha assumido o Bugre debaixo de mais desconfiança do que Umberto Louzer. Auxiliar do clube e com apenas 38 anos, Louzer virou técnico do time principal no meio da pré-temporada, graças ao abandono repentino de Fernando Diniz. É verdade que demorou um pouco para corrigir os problemas defensivos, mas recompensou com um time muito organizado e com propostas claras de jogo. Afinal, um treinador que, em quatro meses de carreira, devolveu o Guarani à elite estadual depois de cinco anos e conseguiu erguer uma taça no clube, feito que não acontecia desde 1981, merece muitos créditos.

Estádio: Brinco de Ouro da Princesa

(Foto: Divulgação/Guarani)
(Foto: Divulgação/Guarani FC)

Casa do Guarani desde 1953, o estádio Brinco de Ouro da Princesa é um dos patrimônios do clube. O local passou situações complicadas nos últimos anos, quando teve o famoso setor tobogã interditado por risco de queda e chegou até a ser leiloado, vítima das dívidas do clube, em 2015. O Bugre conseguiu anular o leilão por conta de irregularidades no processo para evitar a perda do estádio.

Hoje, o clube tem um acordo com a empresa MMG, para quem cederá o terreno do estádio para a construção de um complexo comercial e imobiliário em troca do pagamento da dívida trabalhista do Guarani e a construção de um clube social, um CT e uma nova arena na cidade para 12 mil pessoas, ainda sem prazo para acontecer. O tobogã foi reformado e liberado; foi, inclusive, ocupado quase em toda a sua totalidade nas finais da Série A-2, nas quais os bugrinos chegaram perto da capacidade máxima do estádio, com quase 20 mil presentes.