A chegada ao futebol japonês do volante Augusto, em 2020, tinha tudo para ser uma oportunidade de construir mais um capítulo tranquilo na carreira. Os planos deste e de outras centenas de brazucas pelo mundo, no entanto, foram interrompidos diante da maior pandemia do século. 

Sozinho e do outro lado do globo, o jogador do Matsumoto Yamaga viveu momentos de tensão e medo do coronavírus, que começou a se disseminar no continente asiático. Hoje, Augusto respira mais aliviado e celebra a retomada do futebol, novamente com grandes objetivos na J2 League, equivalente à segunda divisão do futebol japonês.  

“A sensação de ficar preso dentro de casa sem poder sair, usando máscara, vendo a situação do país, foi bem complicado. Fiquei muito assustado, meio nervoso, pensando na minha família no Brasil. O estado que eu moro entrou em quarentena, ficou quase um mês assim. Mas, graças a Deus passou esse tumulto”, relatou o jogador.  

Augusto foi revelado pelo Internacional e teve passagens por Sport, Chapecoense, Joinville e clubes do Irã, Emirados Árabes e México. No Japão, recebeu o apoio de um grande conhecido dos brasileiros. Zico, ex-jogador, ídolo e atual diretor-esportivo do Kashima Antlers, se sensibilizou com a situação do atleta e o procurou para conversar. O Galinho tratou de acalmar e estender a mão para o brazuca isolado no país. 

Após o alívio, com a flexibilização das medidas contra o coronavírus, mais um susto para Augusto: a ocorrência de terremotos. O brasileiro falou sobre mais uma situação inesperada que teve de enfrentar longe da família. 

“Eu estava deitado à tarde e meu celular apitou dizendo que teria terremoto. Nunca tinha visto ou presenciado isso. Tremia um pouco no meu quarto. O celular apitou alto e fiquei preocupado. Depois soube que foi um terremoto aqui bem perto. Fiquei muito assustado, imagina?! Foi o momento mais tenso que passei aqui”, contou Augusto. 

Todo ano, cerca de dois mil terremotos acontecem no Japão. O país já está adaptado ao fenômeno e possui uma série de medidas preventivas, que vão desde a estrutura dos imóveis, até o treinamento e instrução de como lidar nesses casos. As informações são passadas desde a infância dos habitantes. 

Mesmo com o enfrentamento do fenômeno natural, a qualidade de vida do país é um grande atrativo para brasileiros e atletas de outros países. A prova disso está nos números da maior liga nacional, a J-League, equivalente à primeira divisão nacional. Dos 18 clubes na disputa, apenas o Oita Trinta não teve nenhum brasileiro no elenco em 2020.  

Kashima Antlers, maior campeão da J-League, com oito títulos, desde a profissionalização da liga, em 1993, tem história com brasileiros. Zico foi a grande referência e, talvez, o brasileiro com maior sucesso no futebol japonês.

“Aqui ele é um ídolo, qualquer clube que você fala do Zico, todos conhecem. Ele tem uma moral impressionante aqui”, contou Augusto, que comentou também o perfil do torcedor japonês. 

“Os torcedores sempre apoiam, independentemente do resultado, da situação. Um pouco diferente. No Brasil, se o time está numa situação complicado, os torcedores xingam. Aqui, se o time está mal, o torcedor está apoiando, tentando botar o time para frente”, relatou. 

Augusto continua sua trajetória pelo Matsumoto Yamaga, na J2 League. Apesar dos terremotos e do coronavírus, que ainda em julho foi responsável por adiar partidas da liga, o futebol japonês segue enfrentando os desafios de um 2020 turbulento.