Além do 'Milagre de Istambul': relembre os cinco títulos do Liverpool na Champions League

Reds saíram vencedores do torneio nos anos de 77, 78, 81, 84 e 2005 e disputam neste sábado (26) a final da principal competição europeia contra o Real Madrid

Além do 'Milagre de Istambul': relembre os cinco títulos do Liverpool na Champions League
Foto: Ilustração VAVEL Brasil
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Por Matheus Henrique

Após 11 anos, um dos maiores campeões europeus novamente chega à final da Uefa Champions League. Liderados por Salah e Roberto Firmino, o Liverpool enfrenta às 15h45 deste sábado (26) o poderoso Real Madrid, que contém 12 taças da competição em sua sala de troféus, além de seu elenco repleto de craques.

Porém, mesmo que muitos subestimem os Reds pelo passado recente sem títulos e seus jogadores sem grande atenção da mídia, a equipe inglesa está em terceiro lugar entre os maiores vencedores da competição, com cinco títulos, ao lado de Bayern de Munique e Barcelona, e atrás de Milan, com sete, e do próprio Real Madrid, com doze.

Quatro desses títulos foram conquistados na "geração de ouro" dos ingleses entre o fim da década de 70 e início dos anos 80, quando o Liverpool obteve as conquistas em apenas oito temporadas. As históricas equipes da época contavam com nomes como Kenny Dalglish, Ian Callaghan, Alan Kennedy e Alan Hansen. O restante ocorreu em 2005, contra o Milan, no histórico duelo denominado como “O Milagre de Istambul”.

A fim de relembrar os fãs do esporte de mais longa data e informar a nova geração, a VAVEL Brasil decidiu relembrar todos os títulos do Liverpool na Champions League e orgulhar os fãs dos Reds pelo recheado passado de glórias.

1976-77

Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com
Comemoração de um dos gols da vitória do Liverpool na primeira Champions League conquistada. Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com

Quatro anos após a conquista da Copa da Uefa - atual Liga Europa - em cima do Borussia Monchengladbach, o Liverpool novamente enfrentou os alemães numa grande final, desta vez, da Champions League. Os Reds chegavam para fechar a brilhante temporada após a conquista do Campeonato Inglês – na época, Football League – e o vice-campeonato da FA Cup, enquanto seu adversário era o atual campeão da Bundesliga e tentava se tornar o segundo time da Germânia a conquistar o título do principal torneio do continente.

No dia 25 de maio de 1977, em partida disputada no Estádio Olímpico de Roma, na Itália, o título foi direcionado a Anfield após os ingleses baterem por 3 a 1 os alemães e levantarem a ‘orelhuda’.

Na ocasião, o Borussia Monchengladbach perdeu um de seus principais jogadores da época logo aos 24 minutos da primeira etapa. Herbert Wimmer, campeão da Copa do Mundo de 1974 e Eurocopa de 1972, além de cinco campeonatos nacionais e duas Copas da Uefa pelos Potros, sofreu uma lesão na etapa inicial e teve de ser substitúido, sendo uma grande perda para a sequência da partida. Três minutos após sua saída, o Liverpool abriu o placar com Terry McDermott e acabou a primeira etapa em vantagem no placar.

Sete minutos após o recomeço a partida, o Borussia empatou a partida com gol de Allan Simonsen. Depois disso, o Liverpool tentou entrar em vantagem no marcador e questionou a não-marcação de pênalti pelo árbitro. Porém, o suposto erro não fez falta, pois aos 19 minutos da segunda etapa, Tommy Smith cabeceou e deixou os Reds em vantagem. Já perto do final da partida, aos 38 minutos, o Liverpool sofreu pênalti e desta vez o árbitro marcou. Neal cobrou e sacramentou a decisão, dando à equipe o primeiro título de Champions League na história.

1977-78

Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com
Emlyn Hughes (meio) levanta taça na comemoração da vitória contra o Club Brugge. Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com

No ano seguinte, o Liverpool chegou à decisão com amplo favoritismo e confiança por parte dos torcedores ingleses por conta de sua estrelada equipe e a inesperada classificação do Club Brugge, seu adversário, para a grande final da Champions League. Além disso, o país era sede do espetáculo: o jogo foi disputado em Wembley, em Londres, tradicional estádio inglês e templo do futebol mundial.

Os belgas chegaram à final em surpreendente campanha, batendo times como Juventus e Atlético de Madrid, além de Panathinaikos e KuPS. Já os ingleses novamente cortaram o sonho do Borussia Monchengladbach, após eliminarem os alemães nas semifinais do torneio, depois de desclassificar Benfica, Dynamo Dresden e Bye.

A partida não foi tão movimentada quanto a do ano anterior. O Brugge optou por fazer forte marcação e investir na linha de impedimento, implantada quatro anos antes pela Holanda, na Copa de 1974, virando febre nos anos seguintes.

No dia 10 de maio de 1978, Kenny Dalglish dava aumento à sua idolatria e decidia a finalíssima da Champions League após marcar o único gol do confronto aos 19 minutos da segunda etapa, fazendo com que permanecesse a taça em Anfield.

1980-81

Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com
Herói pela primeira vez, Kennedy sorri abraçado à taça da Champions League. Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com

Sem dúvidas, essa é a data que mais serve de estímulo aos Reds para o confronto deste sábado. No dia 27 de maio de 1981, Liverpool e Real Madrid se confrontaram pela primeira vez em uma final de Champions League, disputando no Estádio Parque dos Príncipes, em Paris, na França.

Na época, o Real Madrid já havia vencido seis de suas 12 taças atuais, tendo a última sendo conquistada na edição 1965-66. A equipe merengue chegou à decisão após eliminar Inter de Milão, Spartak de Moscou, Honvéd e Limerick. Já os Reds se classificaram à final após passarem por Bayern de Munique, CSKA Sofia, Aberdeen e Oulun Pallouseura.

Na partida, predominou o equilíbrio tático e técnico. Enquanto as equipes tentavam abrir o placar, sempre esbarravam na força defensiva e vice-versa. O jogo só foi definido nos instantes finais, aos 36 minutos da segunda etapa, quando Alan Kennedy recebeu lançamento de Ray Kennedy e abriu o placar. Após o gol, o Liverpool teve chances de ampliar o marcador, mas esbarrou sempre em Agustín Rodríguez. O resultado encaminhou a taça de volta a Anfield, levando o terceiro título da Champions League ao Liverpool e tornando Bob Paisley como o primeiro treinador a ser campeão três vezes do principal torneio do continente.

1983-84

Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com
Alan Kennedy (3) comemora o quarto título do Liverpool na Champions League. Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com

No dia 30 de maio de 1984, o Liverpool enfrentou talvez um dos territórios mais desfavoráveis para se disputar uma final de Champions League. Os Reds enfrentaram na decisão a Roma, de Paulo Roberto Falcão e Toninho Cerezo, dentro de seu estádio na capital italiana, com 66 mil espectadores, grande parte italianos. Esses torcedores romanistas presenciavam a primeira final da competição por parte da equipe.

Assim como o histórico no torneio, o caminho dos times até a final foi de forma completamente diferente. O Liverpool era o atual campeão inglês e mantinha seu elenco estrelado por grandes jogadores, com isso, passou das fases sem muitas dificuldades e sem perder um jogo sequer. A equipe enfrentou Odense, Athletic Bilbao, Benfica e Dinamo Bucaresti, marcando 15 gols e sofrendo dois em oito jogos.

Já a Roma passou de forma mais apertada por IFK Goteborg, CSKA Sofia, Dynamo Berlin e Dundee United. No geral, perdeu dois jogos, marcou 13 gols e sofreu seis. O trecho mais inusitado foi na classificação para a final da competição: após perder o jogo de ida para o Dundee United, o presidente da Roma na época, Dino Viola, tentou subornar o árbitro Michael Vautrot e foi suspenso dois anos depois das atividades pela Roma por quatro anos.

Na partida, mesmo diante de uma multidão torcendo contra, o Liverpool ignorou a pressão e abriu o placar logo aos 15 minutos da primeira etapa em gol de Phil Neal. A resposta da Roma veio ainda na primeira etapa, na parte final, aos 42 minutos, quando Roberto Pruzzo marcou.

O placar seguiu zerado até o apito final, seguindo a decisão para a prorrogação, que, sem alteração no marcador, levou a partida para penalidades. Na marca da cal, Conti e Graziani, da Roma, perderam os pênaltis, enquanto no Liverpool apenas Nicol desperdiçou. Coube então a Alan Kennedy a responsabilidade da cobrança final e levar os Reds ao quarto título da competição, o que se concretizou.

2004-05

Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com
Steven Gerrard levanta a simbólica taça da Champions League 2004-05. Foto: Reprodução/LiverpoolFC.com

No dia 29 de maio de 2005, ocorreu o fenômeno denominado como “O Milagre de Istambul”. Na data, Liverpool e Milan decidiram o troféu da Uefa Champions League e protagonizaram uma das maiores reviravoltas vistas na história do futebol.

O confronto foi disputado no Estádio Ataturk Olympic, na capital turca, e em campo sobrava qualidade: de um lado, jogadores como Steven Gerrard, Xabi Alonso e Fernando Torres; do outro, Seedorf, Pirlo e Kaká.

O Liverpool começou a competição desacreditado após ficar na segunda colocação em seu grupo, atrás do Mônaco. Porém, a sequência de adversários e vitórias serviu para afastar qualquer desconfiança e crescer o respeito dos adversários. Após a fase de grupos, os Reds passaram por Bayer Leverkusen, Juventus e Chelsea, sem perder sequer um jogo.

Já o Milan liderou seu grupo e deixou o gigante Barcelona na segunda colocação. Na fase mata-mata, eliminou Manchester United, Inter de Milão e PSV, com atuações convincentes, levando a final um clima de forte equilíbrio entre as equipes.

Na partida, o primeiro tempo foi de absoluto domínio do Milan, que abriu o placar logo no primeiro minuto de jogo, quando Maldini acertou belo chute de voleio após cruzamento de Pirlo para balançar as redes. Na sequência da etapa inicial, os italianos chegaram a balançar as redes com Andrey Shevchenko após boa enfiada de bola de Kaká e finalização colocada do ucraniano, porém, o atacante estava impedido.

Jogadores do Liverpool decepcionados após gol do Milan. Foto:Clive Brunskill/Getty Images
Jogadores do Liverpool decepcionados após gol do Milan. Foto: Clive Brunskill/Getty Images

No fim do primeiro tempo, o Milan marcou duas vezes e desta vez os tentos foram validados. Primeiro com Hernán Crespo, aos 38 minutos, quando Shevchenko deixou o egoísmo de lado e tocou a bola para o meio da área, onde estava o atacante argentino, que apenas empurrou para as redes. O resultado de 2 a 0 no fim do primeiro tempo complicaria os planos do Liverpool, porém, ainda poderia piorar.

E piorou. Oito minutos após o gol, Crespo novamente marcou e deixou o Milan numa situação muito confortável no placar, tornando praticamente impossível uma reação dos ingleses.

Na volta do segundo tempo, a equipe italiana permaneceu atacando e oferecendo perigo ao Liverpool. Sendo assim, o treinador do Liverpool, Rafa Benítez, optou por uma mudança tática na equipe e mudou completamente o panorama da partida. A entrada de Hamann no lugar de Finnan mexeu na organização da equipe, conseguiu travar os ataques milanistas e passou a oferecer perigo ao adversário.

Comemoração de Smicer após diminuir a desvantagem. Foto: Clive Brunskill/Getty Images
Comemoração de Smicer após diminuir a desvantagem. Foto: Clive Brunskill/Getty Images

Um dos jogadores que foi beneficiado com a mudança foi Steven Gerrard, ídolo histórico da equipe. Ele passou a jogar mais avançado, e foi numa dessas aparições que o mesmo iniciou a reação e esperança dos Reds. Aos nove minutos, após cruzamento de Riise, Gerrard cabeceou forte, sem condições para defesa de Dida, e descontou o placar. A situação ainda era complicada, mas o gol serviu para estimular completamente os jogadores e torcida. Dois minutos depois, o impossível deu sinais de aparência: Smicer recebeu bola da entrada da área e disparou forte chute rasteiro, novamente sem chances para o goleiro brasileiro, e reduziu ainda mais a desvantagem.

Aos 15 minutos, o impossível aconteceu. Baros observou infiltração de Gerrard na área e tocou de calcanhar para o meia, que saiu cara a cara com Dida com grandes chances de empatar a partida, porém, Gattuso o derrubou e o pênalti foi marcado. Na cobrança de Xabi Alonso, um susto: Dudek defendeu, mas deu rebote e o meia espanhol concretizou o heroico empate.

No restante da segunda etapa, Shevchenko insistiu em derrubar o sonho dos ingleses em três oportunidades, porém, tudo parecia estar desenhado para a volta da orelhuda para Anfield e as bolas não cruzaram a linha do gol de Dudek. Sendo assim, a partida permaneceu empatada durante o restante da segunda etapa e na prorrogação, gerando a decisão do título nos pênaltis. E foi lá onde o goleiro do Liverpool brilhou. Na decisão, o arqueiro defendeu duas batidas contra apenas uma de Dida, entre elas a última, do insistente ucraniano Shevchenko, e a tradicional taça da Champions League se encaminhou para Liverpool pela quinta vez na história.

Retrato do placar eletrônico no estádio Foto: Clive Brunskill/Getty Images
Retrato do placar eletrônico do Estádio Ataturk Olympic. Foto: Clive Brunskill/Getty Images