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Paolo Rossi: De desacreditado à algoz do Brasil em 82

Um dos maiores ídolos do tri-campeonato da Itália em 1982, autor de três gols contra a considerada melhor seleção Canarinho de todos os tempos

Paolo Rossi: De desacreditado à algoz do Brasil em 82
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Por Caio Pavoski

Mesmo depois de ficar fora de uma Copa após 59 anos, a Itália ainda assim é uma seleção de respeito, pentacampeã mundial com diversos jogadores marcantes que passaram pela Azzurra em seus anos de triunfo.

Entre Cesare e Paolo Maldini, Buffon e Cannavaro, visto que a escola italiana é marcada pela força física e defensores disciplinados e extremamente competentes. Um que foge de tal critério é Paolo Rossi, o atacante que viveu polêmicas em sua carreira deu a volta por cima em 1982 quando foi essencial no tricampeonato da nazionale, destaque para a partida em que anotou uma tripletta contra a seleção brasileira.

Em sua carreira como jogador, o centroavante italiano passou por diversos clubes, sendo a Juventus como seu clube formador e onde veio a ter uma maior êxito na carreira com 57 gols em 167 partidas pela equipe bianconera. Já na seleção, Rossi atuou em 48 partidas e marcou 20 gols.

Boa impressão em 78

Apesar de Rossi ter vivido o seu melhor momento na Juventus, o atacante não veio a ser aproveitado de primeiro momento. O clube de Turim resolveu vendê-lo para o Vincenza, clube da Serie B, onde foi guiado para a elite graças aos 21 gols de Rossi em 36 partidas.

Na temporada de 1977/78, quando foi à Serie A, Rossi que tinha apenas 21 anos, melhorou a marca de gols e balançou as redes por 24 tentos em 30 ocasiões. Tal campanha levou o modesto Vincenza ao vice-campeonato que seria vencido pelos bianconeri naquele ano.

Com um desempenho surpreendente para um jovem de sua idade, logo despertou interesse de Enzo Bearzot, que o convocou para a Copa do Mundo de 1978.

(Foto: Popperfoto/Getty Images)
(Foto: Popperfoto/Getty Images)

Embora não tenha sido titular, Paolo entrava durante as partidas o que resultou em três gols e a artilharia da Azzurra, ao lado do consagrado atacante, Roberto Bettega. Naquela edição do torneio, os italianos acabaram em com o terceiro lugar depois de perderem a vaga na final para a Holanda, em uma classificação que estava nas mãos da nazionale e revertida com um 2 a 1 e a eliminação daquele mundial.

Escândalo às vésperas da Eurocopa em 1980

Depois de fazer uma Copa do Mundo, Rossi se transferiu para o Perugia, onde atuou por apenas 40 partidas nos três anos em que defendeu o clube.

Todavia, a passagem de Rossi nos Grifoni não foi marcada por gols, e sim por um escândalo que estourou apenas dois meses antes da Eurocopa que seria sediada na Itália, onde Rossi era figurinha carimbada nas recorrentes convocações de Bearzot.

Conhecido como o Totonero, o caso envolvia a manipulação de resultados à favor de apostadores na Loteria Esportiva. Os apostadores entravam em contato com os atletas para que os mesmos prejudicassem uma partida em prol de dinheiro vindo das apostas.

Quando uma das combinações ocorridas entre os comerciantes que apostavam e os jogadores não aconteceu, o caso foi denunciado na justiça e os apostadores que estavam frustrados com a perda de dinheiro, mencionaram nomes de 13 atletas, além de representantes de Milan e Lazio, juntamente com Rossi entre os indiciados.

A justiça italiana então decidiu punir os atletas e o centroavante italiano foi punido com uma suspensão de dois anos de suas práticas esportivas, fora de quaisquer atividades seja da seleção ou do clube. O episódio também foi marcado com o rebaixamento de equipes como Milan e Lazio, envolvidas no escândalo Totonero.

A volta por cima em 82

Com a suspensão decretada em abril de 1980, Rossi deixou o Perugia e mesmo sem poder jogar, foi contratado pela Juventus, clube que o revelou. A Vecchia Signora cedeu as suas instalações para que Paolo treinasse enquanto cumpria a pena.

Com a pena cumprida, Rossi estreou em 1982 pelos bianconeri e atuou em três partidas. Próximo do mundial que seria sediado na Espanha, o ainda técnico na Azzurra, Enzo Bearzot convocou Paolo, mesmo com toda a repercussão criada por conta do atacante estar sem ritmo de jogo.

Quando a Copa do Mundo de 1982, a Itália começou com dificuldades, empatando as três primeiras partidas e Rossi passando em branco em todas as ocasiões, contudo, a Azzurra avançou para a segunda fase do torneiro graças ao confronto direto no saldo contra a seleção de Camarões.

Com um formato diferente, depois da fase de grupos, as seleções disputavam outra fase de grupos com mais duas equipes, e só um avançaria para as semifinais. O desempenho abaixo na primeira fase fez a Itália cair no 'grupo da morte', junto com Brasil e Argentina, favoritas naquela copa.

Apesar do favoritismo, a primeira partida contra os hermanos, a Itália venceu por 2 a 1, com Rossi mais uma vez em branco, mas com uma melhora de ritmo comparado aos outros confrontos.

No próximo compromisso, os italianos enfrentariam a melhor seleção do torneio. Os brasileiros haviam marcado 13 gols em quatro partidas e aplicado um 3 a 1 sobre a Argentina, o que lhes davam a vantagem de empatar para avançarem às semifinais.

(Foto: Bob Thomas/Getty Images)
(Foto: Bob Thomas/Getty Images)

Entretanto, apesar de possuir diversas estrelas como: Zico, Sócrates, Cerezo e Falcão. Juntamente com uma euforia por parte da população brasileira, a Canarinho não contava em esbarrar com a ascensão de Paolo Rossi no fatídico cinco de julho de 1982.

Na ocasião, a seleção que é considerada a melhor da história, saiu derrotada por 3 a 2 com uma tripletta do italiano que chegou desacreditado e deslanchou a marcar gols a partir da 'Tragédia de Sarriá', local onde foi realizado uma das maiores decepções da seleção Canarinho no século XX.

Com a vitória sobre a favorita daquele ano, a Itália passou com facilidades contra a Polônia, onde Rossi anotou os dois gols da partida levando a Azzurra à decisão contra a Alemanha Ocidental.

Em um jogo truncado no início, os italianos desperdiçaram um pênalti logo aos 24 minutos com Cabrini e o as dificuldades começaram ser mais evidentes.

Todavia, aos 12 minutos da segunda etapa, Claudio Gentile encontra a cabeça de Rossi dentro da área, para abrir o marcador e se tornar o artilheiro isolado do torneio com seis gols.

Depois do gol, os alemães tentaram agredir, mas na base de contra-ataques rápidos e passes precisos, a Itália marcou mais dois gols com Tardelli, aos 24 minutos e Altobelli aos 37. A Alemanha Ocidental ainda diminuiu com Paul Breitner aos 39, mas já era improvável qualquer tipo de reação. A Itália se sagrava tricampeã mundial, com Paolo Rossi nomeado o melhor jogador do torneio.

Ainda em 1982, graças a sua volta por cima, Rossi foi o ganhador da Bola de ouro do ano e da Copa do Mundo. Com a campanha vitoriosa no final, Rossi foi ovacionado na Itália ganhando o apelido de Il Bambino d'Oro (O menino de ouro). Rossi, é o único jogador a ser campeão de uma Copa do Mundo a ser melhor do torneio e também bola de ouro no mesmo ano.

Decadência de um bambino

Com o título mundial de 82, Rossi jogou até 85 onde foi multi-campeão com a Juventus. Depois, transferiu para o Milan, protagonista na Europa na época. Entretanto, o italiano sofreu com diversas lesões que vinham se tornado cada vez mais frequentes com o passar dos anos.

Nas convocações para a Itália, Rossi vinha enfrentando uma seca e marcou três gols em 11 jogos que disputou para as eliminatórias da Eurocopa de 84. As expectativas com o atacante não corresponderam em campo, e a Itália não se classificou para a Euro, ficando em último em seu grupo nas eliminatórias.

Depois do insucesso na classificação da Euro, a Itália já focava na próxima copa, visto que não precisaria disputar fases classificatórias já que tinha uma vaga automática por ter sido a última campeã.

Entretanto, Rossi não jogou a Copa do Mundo de 1986 no México, pois estava machucado. Um ano depois, o atacante encerrava a sua carreira em amistoso com a seleção para selar a sua despedida dos gramados aos 31 anos.