Do Lanús ao Fluminense: jornalistas de diversas nacionalidades analisam a ascensão de Germán Cano

Especialistas apontam que craque argentino chega no seu auge após os 30 anos de idade e segue impressionando a todos com o seu desempenho

Do Lanús ao Fluminense: jornalistas de diversas nacionalidades analisam a ascensão de Germán Cano
Foto: Divulgação / Fluminense
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Por Arthur Fernandes

De Lanús à Cidade do México, de Medellín ao Rio de Janeiro, o nome de Germán Cano é conhecido e respeitado por sua brilhante trajetória no futebol latino-americano. Com 35 anos de idade, o atacante argentino acumula passagens por clubes renomados, como Lanús, Nacional do Paraguai, Pachuca, León, Independiente Medellín, Vasco, Fluminense e entre outros clubes. 

Desde sua chegada aos gramados sul-americanos, Germán Cano tem se destacado pela sua habilidade técnica, faro de gol afiado e dedicação incansável em campo. Sua carreira tem sido marcada por conquistas individuais e coletivas, sendo um artilheiro nato e referência para suas equipes. Nesta matéria, jornalistas de diferentes países da América Latina (Argentina, Paraguai, México, Colômbia e Brasil) analisam a carreira do experiente jogador, que conquistou fãs e fez história nos campos do continente. 

Confira as análises e visões sobre o trajeto do talentoso atacante argentino, Germán Cano, que desempenhou um papel fundamental em alguns clubes por onde passou. É importante notar que os clubes em que jogou não estão listados em ordem cronológica na matéria, mas sim agrupados de acordo com cada país onde atuou.

Revelado na Argentina

Revelado pelo Lanús, Cano chegou ao clube ainda nas categorias de base e subiu para o time profissional em 2007. Entretanto, só conseguiu estrear no ano seguinte nos gramados. Germán não teve grandes oportunidades no Lanús nas três temporadas em que ficou na equipe devido a alta competitividade na posição. Ao todo, foram apenas dois gols marcados entre 2007 e 2010.

Com a alta competitividade no ataque, o atleta argentino precisou ser emprestado e passou por outros dois clubes do país: Chacaritas Júniors, onde ficou como meio-campista e também não teve grandes oportunidades, e Colón.

De acordo com o jornalista Nico Castillo da VAVEL Argentina, a carreira de Germán Cano passou longe dos holofotes no país sul-americano.

“A passagem de Cano no futebol argentino foi bem tranquila. Talvez, se tivesse jogado no River ou no Boca teria mais mídia na época. Foi uma boa revelação do Lanús, mas é pena que saiu pela porta dos fundos”, disse Nico Castillo.

Breve carreira no Paraguai

Cano também teve uma breve passagem pelo Nacional do Paraguai. O jovem jogador argentino chegou ao país em 2012 por empréstimo, mas também não teve oportunidades. Segundo o jornalista Nicolás Lithitx do Tigo Deportes, Germán Cano não conseguiu se adaptar ao futebol paraguaio.

“Não acho que foi uma má contratação para o Nacional do Paraguai. Germán Cano é um grande jogador e já demonstrou isso. Acontece que os jogadores, em certas ocasiões, simplesmente não têm tempo suficiente para se adaptar a outro estilo de  futebol. No Paraguai, aconteceu recentemente com Marcelo Moreno Martins no Cerro Porteño”, disse Nico Lithitx.

Frustração com lesão no México

Já no México, Germán começou bem e poderia ter dado certo. Porém, lesionou-se durante a semifinal da Concacaf Champions League vestindo a camisa do Pachuca. O que resultou em um empréstimo ao León após recuperar-se da lesão e acabou não vingando também.

Para o jornalista Israel Romo, da TUDN MEX, o jogador argentino não jogou mal no México e que o impediu de ter um bom rendimento foi o esquema tático que inviabiliza o estilo de jogo dele.

Foto: divulgação / Pachuca
Foto: divulgação / Pachuca

Germán Cano chegou do Pachuca ao León depois de ter rompido o ligamento cruzado de um dos joelhos. Começou a fazer gols com León jogando ao lado do argentino Mauro Boselli. Germán não era o principal centroavante. O principal era o Boselli. Acho que demorou um pouco para se adaptar, porém, ele fez vários gols. Não acho que ele teve uma atuação ruim e acredito que a decepção foi a questão do esquema de jogo que não permitiu que ele passasse por cima de Mauro Boselli que na época era o principal centroavante do León”, disse Israel Romo.

Em 2017, o Pachuca foi campeão continental da América do Norte e Caribe. Cano, como dito anteriormente, estava no elenco e quando começou a jogar bem, veio a lesão. Na opinião do jornalista mexicano, o público ficou com uma sensação de que Cano poderia ter feito algo a mais em condições normais e não considera a passagem do argentino pelo México um fracasso.

“Eu não consideraria um fracasso. Simplesmente aconteceu. Acho que, no final, não poderia transcender principalmente pela questão do sistema de jogo do Pachuca. Não correu bem porque não era considerado o homem de confiança como ponta-de-lança. Ele marcou alguns gols importantes e sempre houve o sentimento, tanto no público como na direção, de que algo a mais poderia ter acontecido. No fim, são os diretores técnicos que tomam as decisões [...] No Pachuca, ele teve oportunidades nos jogos, marcou alguns gols e chegou a ser campeão da Concacaf Champions League. Ele estava indo para o Mundial de Clubes, mas não encontrou continuidade. Nós sabemos que os diretores técnicos muitas vezes buscam o gosto pessoal e o Germán não se encaixava no gosto pessoal de nenhum deles e trouxeram outros tipos de jogadores”, contou.

Além disso, Israel Romo elogiou o poder decisivo do atacante, disse que os clubes mexicanos não souberam explorar esse lado dele e disse que isso custou o legado do atleta no país.

“Eu vou mais na tese de que eles não souberam usar e não lhe deram a confiança para jogar como o principal centroavante do time. Pessoalmente, eu gosto muito do poder de finalização dele e me parece que pode fazer grandes coisas. No entanto, acho que por não ter a confiança da comissão técnica, ele voltou para a Colômbia. Eles garantiram que não era sua prioridade. Tanto que na Colômbia se saiu muito bem e depois foi para o Brasil, onde também se saiu bem. No entanto, me parece que no futebol mexicano não será tão lembrado, exceto pelo gol que marcou no retorno de uma lesão e que começou a chorar no estádio do León.”

Surge um artilheiro na Colômbia

O primeiro contato de Cano com um clube colombiano foi o Deportivo Pereira e teve um bom desempenho. Foram 10 gols em 18 jogos. Um bom desempenho para um atacante.

Entretanto, Germán defendeu outro time colombiano e, desta vez, tornou-se ídolo. O status veio devido ao grande desempenho no Independiente Medellín. Ao todo, foram duas passagens pela equipe com 124 gols em 186 jogos (maior artilheiro da história do clube) e o título da Copa da Colômbia em 2019.

Na opinião do jornalista Jhonatan Martínez da VAVEL Colômbia, Cano superou as expectativas no Deportivo Pereira, visto que o time foi rebaixado mesmo com o seu esforço dentro de campo.

“Acho que o fato de já conhecer o estilo de jogar futebol colombiano nesse caso ajudou muito. Aliás, mesmo o Pereira sendo um péssimo time e acabar rebaixado, ele foi um dos destaques. No Independiente, foi peça fundamental na segunda metade de 2012 e apesar da lesão que o deixou na final, o fato dos torcedores reconhecerem o seu esforço foi determinante”, disse Jhonatan Martínez.

Foto: divulgação / DIM
Foto: divulgação / DIM

Além disso, o jornalista colombiano caracterizou Germán Cano como um dos cinco maiores ídolos do Independiente Medellín, disse que um possível reencontro com o atleta vestindo a camisa de outro clube será bem tranquilo e que acredita em um possível retorno de Germán Cano ao futebol colombiano.

“Acho que se levarmos em conta a última década, ele é o mais recente a se formar como ídolo do time. Nenhum jogador nos últimos anos teve uma atuação tão excepcional, nem gerou tanto carinho nessa relação com os torcedores, que também tratam muito bem os jogadores argentinos. Embora tenha um título da Copa Colômbia, ainda tem um campeonato pendente, que tem sido indescritível. Porém, isso para mim, não o priva de ter um lugar entre os 5 maiores ídolos da instituição ao longo de sua história. Sem dúvida, o torcedor do Medellín está muito feliz por estar indo muito bem e sempre ficará feliz que um jogador que ama a instituição tenha um bom presente, mas com Cano é um caso especial. O desconforto que havia quando foi anunciado que definitivamente não iria rolar, foi muito grande, pois o amor que ele tem por tudo que se refere ao Independiente é imenso. Tomara que esse confronto nunca aconteça, pois seria doloroso vê-lo marcar contra o time que ele ama (risos). Porém, nesse esporte não se sabe o que o destino reserva, o que se sabe é que ele voltará a vestir a camisa cores do Independiente Medellín antes de dar o ponto final na carreira”, finalizou.

Caiu nas graças dos torcedores no Brasil

Cano chegou ao Brasil com um status de goleador nato. Contratado pelo Vasco em 2020, o atacante chegou marcando muitos gols. Porém, mesmo fazendo a sua parte, não conseguiu evitar o rebaixamento do Vasco para a Série B. Mesmo com a queda, continuou no clube cruzmaltino na temporada seguinte, mas teve uma queda no seu rendimento por conta do trabalho coletivo. No Vasco, Germán Cano tornou-se o maior artilheiro estrangeiro do clube no século com 43 gols em 101 jogos.

O jornalista Cleiton Fernandes da VAVEL Brasil disse que Cano correspondeu às expectativas dos torcedores do Vasco, mas que a reprovação de alguns torcedores é devido a segunda temporada do atleta argentino no clube do Rio de Janeiro e por conta de suas falhas em algumas oportunidades de gols.

“Sem dúvidas nenhuma, ele correspondeu às expectativas na primeira temporada. Chegou em um momento de baixa da equipe, que estava carente de um bom centroavante. Logo no primeiro ano, ele marcou gols importantes que, se não fosse isso, a pontuação do Vasco seria bem pior. Acredito que a divisão na opinião dos torcedores deve-se a sua atuação no segundo ano, na Série B. Cano, assim como toda a equipe, não teve um bom desempenho e o argentino ainda ficou marcado devido a uma sequência de pênaltis perdidos”, disse Cleiton Fernandes.

Foto: divulgação / Vasco
Foto: divulgação / Vasco

Para a temporada de 2022, o Vasco não conseguiu renovar com Germán Cano por conta das dívidas pendentes e do alto salário do atleta argentino. Com isso, o atacante ficou livre para negociar com outros clubes e acabou fechando acordo com o Fluminense.

“Cano tinha grande potencial, mas era visível que ele não renderia em mais uma Série B. Talvez, o ideal fosse renovar o contrato e emprestá-lo para jogar a Série A por outra equipe para que retornasse em 2023 ou ao menos rendesse um bom valor aos cofres do time. Quanto a ir para o Fluminense, sem contrato, não tinha muito o que fazer. É direito do atleta escolher o melhor para a sua carreira e o acerto com o Fluminense acabou se mostrando uma decisão acertada. Na minha opinião, ele não teria uma temporada passada de mesmo destaque, devido às más condições que a Série B oferece, desde um elenco carente de boas opções ao lado, até campos ruins e times fechados. Já nesta temporada, numa Série A, acredito que ele desempenharia um bom papel, mas ainda assim, não igual ao Fluminense. O esquema do Fernando Diniz favorece demais o futebol do argentino. Não à toa, mesmo aos 35 anos, ele vive a melhor fase na sua carreira”, opinou Cleiton Fernandes.

Cano chegou ao Fluminense e rapidamente mostrou para o que veio. Logo na primeira temporada com a camisa do clube das Laranjeiras, marcou 54 gols em 79 jogos, foi artilheiro do Campeonato Brasileiro e conquistou o Campeonato Carioca. Neste ano de 2023, já foram 18 gols em 14 jogos e ganhou o título estadual novamente. Em tão pouco tempo, já entrou na lista dos 10 maiores artilheiros estrangeiros do Fluminense, foi o maior artilheiro do clube em uma única temporada, maior artilheiro do Campeonato Brasileiro desde o início dos pontos corridos e maior artilheiro estrangeiro da história do Campeonato Brasileiro. 

É notório que Germán Cano está jogando cada vez melhor à medida que o tempo passa e chega ao seu auge após os 30 anos de idade. Hoje, aos 35 anos de idade, tem números espetaculares para a sua idade e deixando claro que não ficou de fora de nenhum jogo na temporada passada. A jornalista Luiza Sá do portal UOL analisou a trajetória do atacante Tricolor até o momento, opinou sobre uma possível aposentadoria e disse que Germán superou as expectativas da torcida do Fluminense.

“Cano melhora a cada dia que passa. Apesar de não ter feito sucesso na Argentina, foi bem na Colômbia e teve uma excelente temporada pelo Independiente Medellín em 2019. Esse desempenho fez ele chamar a atenção no Brasil, logo se tornando xodó no Vasco. O alto salário impediu de ficar na Colina e o Fluminense aproveitou. Se já era muito bom no Cruzmaltino, se superou no Fluminense. Mesmo quando vive jejum, é incansável e participa de todos os jogos possíveis. É um jogador impressionante pela noção de posicionamento e pelo fato de conseguir marcar de qualquer jeito. Com as duas pernas, de cabeça, dentro ou fora da área. Tem muito recurso. Como se cuida fisicamente, acredito que a carreira ainda pode durar alguns anos. Cano é muito mais do que a torcida esperava. A expectativa era grande, mas o que ele fez em 2022 e vem fazendo em 2023 o credenciaram como ídolo muito rapidamente. Chegou para aos poucos substituir Fred, mas nem deu chance para o ex-camisa 9 disputar posição”, disse Luiza Sá.

Nesta temporada, Cano já foi fundamental para o Fluminense conquistar o título do Campeonato Carioca. Agora, o Tricolor tem pela frente o Brasileirão, a Copa do Brasil e a tão sonhada Libertadores. Na opinião da jornalista do portal UOL, a presença do atacante argentino no elenco do Fluminense aumenta as chances do clube conquistar um desses títulos este ano. Porém, a falta de um reserva do mesmo nível pode ser um problema para Fernando Diniz

“Aumenta as chances porque o Cano do Fluminense é extremamente decisivo. Aparece nos principais momentos e isso faz a diferença. É um time muito forte em vários setores, mas que tem nele a maior referência. Com certeza credencia o time a disputar coisas grandes, mas a falta de um bom reserva pode ser um problema.”

Além disso, Luiza Sá acredita que, além dos fatores psicológicos pessoais, a qualidade do time e as estratégias escolhidas por Fernando Diniz são fundamentais para que Germán Cano tenha um rendimento melhor no Fluminense do que no Vasco em tão pouco tempo.

“Confiança, autocuidado e qualidade do time. O Cano do Vasco era ótimo, o do Fluminense é excelente. Tem estrutura, já tinha ido bem com o Abel Braga e só aumentou o bom rendimento. O Diniz consegue extrair dele um outro tipo de jogador, menos preso na área. Cano ajuda na recomposição, está em mais lugares do campo e, como os dois já se conheciam, há bom diálogo entre eles. Fora que ele é um jogador que se cuida muito fora do campo, sempre preocupado para evitar lesões, estar em forma. Tudo ajuda”, finalizou.

Fora da Copa do Mundo pela Argentina em 2022

Vivendo o auge de sua carreira no Fluminense e tendo feito uma excelente campanha durante a temporada, Germán Cano passou longe de uma convocação para a seleção da Argentina. Mesmo com um grande apelo dos torcedores dos clubes por qual ele é ídolo e de seus fãs, Lionel Scaloni nunca fez nenhuma menção em convocar o craque argentino nem para um amistoso. Na época, muitos torcedores e a imprensa brasileira acreditavam que o treinador da Argentina poderia levá-lo para o Catar e deixá-lo pelo menos no banco de reservas.

Agora, aos 35 anos de idade, fica muito complicado cogitar em participar do ciclo para a Copa do Mundo de 2026 tendo em vista a idade elevada. O jornalista Nico Castillo da VAVEL Argentina também vê dificuldades para uma possível convocação e atribui ao fato de Germán Cano jogar no futebol brasileiro durante a Copa do Mundo e não estar jogando, por exemplo, em ligas da Europa.

“Acho que Cano não é considerado por Lionel Scaloni. Se ele estivesse em uma liga de ponta, poderia ter sido levado em conta durante a convocação para a Copa do Mundo. Hoje, vejo dificuldades para ele ser chamado para a seleção”, comentou o jornalista da VAVEL.