Nunca na história do futebol brasileiro um time conseguiu sagrar-se campeão da Tríplice Coroa mais importante da América do Sul: Libertadores, Brasileirão e Copa do Brasil. Outros conquistaram sim tríplices coroas, somando estaduais, interestaduais ou outros continentais (somando Recopa ou Supercopa ou Mundial). Isso se deve a dois fatores: equilíbrio do futebol brasileiro e calendário.
O calendário para o Flamengo de 2023 parece ser injusto. O time conseguiu a façanha de perder todos os títulos que disputou na temporada: Mundial de Clubes, Recopa, Supercopa do Brasil e até mesmo o Campeonato Carioca. Mas o torcedor que esperava dias melhores com o técnico Jorge Sampaoli pode ter que ver o Rubro-Negro abrir mão de uma das três competições que ainda disputa.
A explicativa? O restrospecto do técnico argentino à frente de outros clubes brasileiros (Santos e Atlético-MG) e a entrevista concedida após o empate em 1 a 1 com o modesto Ñublense, pela quarta rodada da Libertadores, no Chile.
Entrevista de Sampaoli escancara realidade dura para o Flamengo
Desde que começou a organizar as contas, em 2013, o Flamengo passou a fazer investimentos pensando no futuro do futebol no clube. Em 2016, os reforços de peso começaram a chegar com Diego Ribas e, posteriormente, com Everton Ribeiro e Diego Alves. O time evoluiu de tal forma que é considerado por muitos o melhor elenco da América do Sul.
Para Sampaoli, entretanto, parece não ser suficiente. O calendário do futebol brasileiro também não ajuda. Mesmo equipes com alto poder financeiro sofrem para jogar a cada três dias e as reclamações não são exclusivas da Gávea.
Soma-se a isso o fato de que o Mengão foi o clube que mais disputou competições em 2023. Foram oito ao todo: Mundial de Clubes, Recopa Sul-Americana, Supercopa do Brasil, Campeonato Carioca, Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores. O Fortaleza vem logo atrás, com seis, uma vez que o Leão do Pici disputou a Copa do Nordeste, a fase prévia da Libertadores e, agora, joga a Sul-Americana.
Com um futebol apresentado bem abaixo do que pode, um calendário apertado e pouco tempo para treinamento, Sampaoli elegeu um culpado. O argentino declarou isso após o empate com o Ñublense:
"Sim, o time está tendo alguns problemas físicos em relação ao que penso que o time tem que ter em relação a intensidade. Tem relação com fadiga, com queda de rendimento, lesão... É um processo. Quero muito mais. Às vezes o jogador tenta, tenta e tenta e às vezes consegue e às vezes não. A realidade é que nesse processo de pouco tempo, eu quero outra coisa.", começou antes de completar:
"Mas insisto nisso e a verdade é que a sequência de jogos está nos custando muito."
Solução pode ser dura para os flamenguistas
Com problemas físicos, queda de rendimento e sequência de jogos que custam muito, a solução pode ser abrir mão de um dos três torneios em 2023. O sonho de todo torcedor é conquistar a tão sonhada 'Tríplice Coroa Original', mas se ninguém nunca alcançou o feito, pode não ser desta vez para o Flamengo também.
O retrospecto de Sampaoli, aliás, demonstra que os times brasileiros comandados pelo técnico só decolaram após terem uma competição para disputar.
Retrospecto no Santos
No Santos, em 2019, o argentino participou da pré-temporada e até chegou a desempenhar um bom trabalho no início, mas foi eliminado ainda na primeira fase da Copa Sul-Americana para o River Plate do Uruguai. No Paulistão, uma boa campanha: parou nas semifinais, eliminado para o Corinthians nos pênaltis, mas com bom rendimento. Nesta fase, o time tinha apenas dois torneios: Paulistão e Copa do Brasil.
Após o fim do Paulista e início do Brasileiro, o Santos passou a ter novamente dois torneios, mas logo foi eliminado na copa, para o Atlético-MG, nas oitavas, com apenas oito rodadas do Brasileiro. O foco passou a ser 100% no campeonato de pontos corridos, onde o argentino conseguiu excelente campanha e o vice-campeonato, atrás do próprio Flamengo, à época comandado por Jorge Jesus.
Sampaoli no Santos | 2019 |
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Copa Sul-Americana | Eliminado na primeira fase |
Campeonato Paulista | Eliminado nas semifinais |
Copa do Brasil | Eliminado nas oitavas de final |
Brasileirão | Terminou em 2º lugar |
Retrospecto no Atlético-MG
No Galo, Sampaoli pegou uma situação diferente do que viu no Santos, mas semelhante à que tem no Flamengo. O técnico foi contratado no meio da temporada, quando o clube já tinha sido eliminado da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, em vexames para o Afogados-PI e Unión de Santa Fé, da Argentina, respectivamente.
Logo, o treinador não precisou se preocupar com uma sequência grande de jogos, uma vez que disputou apenas o Campeonato Mineiro, do qual foi campeão, e o Brasileiro, que chegou a liderar por seis rodadas consecutivas, mas acabou na terceira colocação, com três pontos a menos que o Flamengo.
Sampaoli no Galo | 2020 |
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Campeonato Mineiro | Campeão |
Campeonato Brasileiro | 3º lugar |
Abrir mão de um torneio daria certo ao Flamengo?
Que o Flamengo tem um elenco superior aos que Sampaoli comandou tanto no Atlético-MG, quanto no Santos, é inegável. Entretanto, nada garante que o time terá perna para disputar até o fim as três competições e avançar para brigar pelo título. Do mesmo modo, abrir mão de um torneio não significa necessáriamente ganhar o outro, mas o time terá um fôlego maior para ajustar a parte técnica, tática e, principalmente, física.
O torcedor rubro-negro não quer nem ouvir o papo de ter que abrir mão de alguma das três taças, mas pode ser preciso. Neste caso, em qual torneio você, torcedor, escolheria focar? Fica aberto à reflexão.
A janela de transferências do meio do ano abre em julho, mas até lá o Flamengo já pode ter sido eliminado na Copa do Brasil, para o rival Fluminense, ou até mesmo da Libertadores, no pesadelo da fase de grupos. Se avançar em ambas, os novos reforços darão fôlego ao time, mas precisarão de tempo. Adaptação a um novo estilo e um novo futebol muitas das vezes não é fácil.
Por enquanto, o Mais Querido já tem engatilhado as chegadas do goleiro Rossi e do atacante Luiz Araújo. Outros nomes como De La Cruz e Allan estão na pauta, mas pode ser preciso muito mais do que reforços para que o time consiga finalizar 2023 erguendo uma taça.