O último sem ouro: após final olímpica, apenas um campeão do mundo ficará sem título olímpico

O último sem ouro: após final olímpica, apenas um campeão do mundo ficará sem título olímpico
Após a final olímpica, restará apenas um dos países campeões da Copa do Mundo sem o ouro no futebol
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Por Gabriel Menezes

A final do futebol masculino nos Jogos Olímpicos Rio 2016, entre Brasil e Alemanha, trará consigo uma série de coincidências e fatos relevantes para a história do futebol mundial. Um deles demonstra que apenas um dos países que já venceu ao menos uma Copa do Mundo seguirá sem o ouro olímpico. Atualmente, as nações que podem se denominar campeãs do mundo de futebol são oito: Uruguai, Espanha, Argentina, Itália, França, Alemanha, Brasil e a Inglaterra. Como a última disputa a Olimpíada sob a bandeira da Grã-Bretanha, é justo tratá-la como tal.

Os dois finalistas de amanhã (20) são justamente os dois únicos a nunca terem conseguido conquistar um ouro em quaisquer edições dos Jogos Olímpicos, onde o futebol é disputado desde 1900, tendo sua primeira competição oficial em 1908. Os atuais donos da casa já bateram na trave por três vezes, ficando com a prata em Los Angeles 1984, Seul 1988 e Londres 2012. Enquanto isso, a Alemanha deve ter suas participações exploradas mais a fundo, por conta da época em que existiam duas seleções alemãs, por conta da divisão do país entre a República Democrática Alemã, também conhecida como Alemanha Oriental e a República Federal da Alemanha, a popular Alemanha Ocidental.

Grã-Bretanha: a primeira bicampeã olímpica

O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, comumente encurtado para Reino Unido ou Grã-Bretanha, se sagrou como primeiro país a ser campeão dos Jogos Olímpicos, ainda em 1900, em Paris. No entanto, o torneio olímpico era, nesse momento, uma exibição entre apenas três seleções. O Comitê Olímpico Internacional (COI) reconheceu os Jogos de 1900 e 1904 como válidos e atribuiu medalhas para os três países representados nos mesmos.

No entanto, o primeiro torneio de futebol realmente oficial aconteceu nos primeiros Jogos Olímpicos de Londres, em 1908. E a Grã-Bretanha levou o ouro novamente, derrotando a Dinamarca na final, pelo placar de 2 a 0. Essa final se repetiria quatro anos depois, com mais uma vitória dos britânicos, dessa vez por 4 a 2. Mais tarde, em 1966, a Inglaterra conquistaria sua primeira e, até hoje, única Copa do Mundo. É importante ressaltar aqui que os ingleses não competem separadamente nos Jogos Olímpicos, então atribuímos os ouros olímpicos também a esse país.

Uruguai segue exemplo britânico e nasce a Celeste Olímpica

É impossível falar da seleção uruguaia de futebol sem associar a mesma com as vitórias nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, já que essas duas medalhas de ouro fizeram parte da história uruguaia no esporte, dando até mesmo o apelido à esquadra. Primeiro país sul-americano a conseguir uma medalha no futebol em Olimpíadas, o Uruguai passou a ser chamado, de Celeste Olímpica, após o bicampeonato do torneio. O apelido de "celeste" é comumente usado até hoje por conta da cor da camisa principal.

Na primeira final olímpica em que chegou, o Uruguai saiu com o ouro ao derrotar a Suíça pelo placar de 3 a 0, em Paris 1924. Quatro anos depois, nos Jogos Olímpicos de Amsterdam, os uruguaios venceram outra equipe sul-americana, também estreante em finais olímpicas: a Argentina, que viria a ser medalhista de ouro mais à frente. A superioridade uruguaia se manteve até mesmo na Copa do Mundo de 1930, o primeiro torneio, onde os uruguaios também saíram vitoriosos.

Itália: campeã olímpica em meio a dois títulos mundiais

A seleção italiana é, hoje em dia, a segunda maior vencedora de Copas do Mundo, juntamente com a Alemanha, tendo quatro títulos em sua história. Dois deles foram conquistados na década de 1930, mais especificamente em 1934 e 1938. Entre essas duas conquistas, foi realizada a Olimpíada de Berlim 1936, já na Alemanha Nazista, sob o comando do Führer Adolf Hitler. A Itália, também sob um regime totalitário comandando por Benito Mussolini, levou a medalha de ouro ao vencer a Áustria por 2 a 1.

França se tornou algoz do Brasil 14 anos antes da Copa de 1998

A França pode ser considerada a primeira nação a se tornar campeã olímpica antes de vencer ao menos uma Copa do Mundo, já que Grã-Bretanha e Uruguai venceram o torneio olímpico antes mesmo da realização da primeira Copa, em 1930. Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984, a França ficou com a medalha de ouro ao vencer, na final, o Brasil, pelo placar de 2 a 0, num prelúdio do que viria a acontecer 14 anos depois, já na França, com a conquista da Copa do Mundo pelo país da casa, vencendo a seleção brasileira por 3 a 0 na grande final.

Espanha conquista medalha de ouro em casa com direito a presença de Pep Guardiola

A Espanha só veio a conquistar uma Copa do Mundo em 2010, numa época em que dominou o futebol mundial, vencendo também as Eurocopas de 2008 e 2012. No entanto, o ouro olímpico também veio antes da conquista do maior torneio de futebol do mundo. Em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona, chegaram à final contra a Polônia e saíram vencedores pelo placar de 3 a 2, em torneio que teve como principal surpresa a disputa pelo bronze entre Austrália e Gana. Os africanos venceram e levaram para casa a primeira medalha do continente no futebol olímpico.

Há de se destacar a presença de dois jogadores no elenco espanhol que acabou sendo medalhista em 1992: Santiago Cañizares e Josep Guardiola. O primeiro ficou conhecido nos anos seguintes como um dos maiores goleiros da história da Espanha, sendo ídolo no Valencia, clube pelo qual atuou por uma década. O segundo, conhecido popularmente como Pep Guardiola, consagrou-se ao comandar um time mágico do Barcelona, sendo multicampeão também pelo Bayern de Munique, sendo considerado um dos melhores técnicos do mundo na atualidade

Argentina conseguem bicampeonato olímpico com direito a revanche em 2008

A história das duas medalhas de ouro argentinas em Olimpíadas é um tanto quanto curiosa. Depois de ser campeã mundial em 1978 e 1986, os hermanos só vieram a conquistar o título dos Jogos Olímpicos em 2004, na Grécia, ao bater a seleção paraguaia por 1 a 0 na final, se sagrando campeã do torneio de forma invicta e, de maneira impressionante, sem sofrer nenhum gol. Em Pequim 2008, o segundo ouro, com participação de jogadores que brilham nos gramados hoje em dia, como Mascherano, Ángel di Maria, Agüero e o atual capitão da seleção argentina Lionel Messi.

Em 2008, a Argentina se sagrou campeã ao bater a Nigéria na final, também pelo placar de 1 a 0, assim como na edição anterior dos Jogos. A final teve um gostinho especial para os argentinos, que já haviam perdido a chance do ouro em 1996, na Olimpíada de Atlanta, sendo derrotados pelos nigerianos pelo placar de 3 a 2.

Brasil: a obsessão pelo ouro e a expectativa de conquistá-lo em casa

A seleção brasileira já chegou muito próxima do ouro em três oportunidades, ficando com a prata até mesmo na última edição dos Jogos Olímpicos, em Londres. Agora a expectativa é pela conquista do título olímpico dentro de casa, em cenário semelhante ao encontrado em 2014, quando a Copa do Mundo foi realizada no Brasil. As recordações da competição, no entanto, são bastante doloridas, principalmente por conta do 7 a 1 sofrido justamente para a Alemanha, nas semifinais.

Com cinco medalhas na história, sendo três de prata e duas de bronze, o Brasil chega à final dos Jogos Olímpicos Rio 2016 buscando o único título que falta na galeria de troféus da seleção. É importante destacar que a seleção brasileira é uma das mais regulares no torneio. Desde 1976, quando conseguiu o quarto lugar, foram disputadas 11 edições dos Jogos e a seleção chegou às semifinais em sete delas, avançando para a grande final em quatro oportunidades.

Celeiro de grandes nomes do futebol mundial, a geração atual também conta com jogadores que já se destacam no cenário nacional e prometem marcar seu nome ao redor do globo, tais como Gabriel Jesus, atacante do Palmeiras e que já tem transferência acertada para o Manchester City. A liderança do elenco fica por conta do camisa 10 e capitão Neymar, o brasileiro mais talentoso da década de 2010, que já vem galgando espaços como um dos melhores da história e tenta carregar o time para a conquista inédita.

Alemanha já conquistou medalhas, mas nunca como um país unificado

Para falar da participação alemã em Jogos Olímpicos, é importante também falar de história. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os países do chamado Eixo (Alemanha, Itália e Japão) sofreram com diversas sanções aplicadas por vários países ao redor do globo. Com a queda do regime nazista, o território alemão foi dividido entre os países vencedores: Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética. Os três primeiros, que viviam sob o regime capitalista, dividiram a parte ocidental do território, enquanto que a URSS ficou com a metade oriental da Alemanha, levando a uma divisão em dois Estados distintos.

Em 1961, foi levantado o famoso muro de Berlim, que separava a República Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental) da República Federal da Alemanha (RFA ou Alemanha Ocidental), incluindo uma divisão da capital em duas partes. A divisão durou de 1949 até 1990, quando o muro foi derrubado e a Alemanha, então, reunificada. Mas foi no período de divisão que o futebol alemão apresentou seus melhores resultados nas Olimpíadas, principalmente com as boas campanhas da Alemanha Oriental, sob o regime socialista.

Ao contrário do que ocorria nas Copas do Mundo, com amplo domínio da Alemanha Ocidental, tricampeã mundial no período em que ainda havia a divisão, o único ouro olímpico alemão foi conquistado pela porção oriental do país, em 1976, nos Jogos Olímpicos de Montreal, quando venceram a Polônia por 3 a 1, na final. Logo na participação seguinte, em Moscou 1980, a RDA ficou com a prata ao ser derrotada pela seleção da Tchecoslováquia, por 1 a 0. A Alemanha Ocidental teve um terceiro lugar em 1988 como melhor campanha. Os alemães ainda competiram com uma seleção unificada em 1964, ficando com o bronze nessa oportunidade.