Prevendo a 21° Copa do Mundo, na Rússia, e também celebrando incríveis quase 90 anos de história da competição, a VAVEL Brasil lança o Guia da Copa, relembrando todo o acontecido nas edições passadas do campeonato de futebol mais importante do planeta.
Nesta edição, o portal irá relembrar a Copa do Mundo do México, em 1986. Confira:
Introdução
O ano era 1982, e a economia na Colombia ia de mal a pior. O país, que iria sediar a Copa do Mundo em quatro anos, vivia dias de terror nas ruas, com seu povo tendo que batalhar mais e mais para sobreviver com salários baixos e um estado praticamente falido.
Embora os projetos tenham sido feitos há oito anos, nada saiu do papel. O presidente colombiano então declarou à seu povo:
"Como preservamos o bem público, como sabemos que o desperdício é imperdoável, anuncio ao meu povo que o Mundial de Futebol de 1986 não se realizará na Colômbia, após consulta democrática sobre quais são as necessidades reais do país: não se cumpriu a regra de ouro, segundo a qual o Mundial deveria servir à Colômbia e não a Colômbia servir à multinacional do Mundial. Aqui temos outras coisas a fazer, e não há sequer tempo para atender às extravagâncias da Fifa e seus sócios."
Diante do problema, a FIFA precisava agir rápido. Como conseguir organizar uma Copa do Mundo em um país que teria menos de quatro anos para preparar-se?
Era necessário encontrar um país já desenvolvido em termos de infraestrutura esportiva para sediar o Mundial. A organização correu atrás de Canadá, Estados Unidos e até do Brasil. Mas nenhum governo aceitou.
País sede
Após um ano de tentativas frustradas, finalmente havia-se encontrado um país que aceitaria sediar o evento: o México. 16 anos após sediar a Copa pela primeira vez, o país tinha a capacidade de receber o evento.
A organização foi ágil e o país iria tornar-se o primeiro a sediar o Mundial pela segunda vez, mesmo após alguns terremotos ameaçarem a continuação do projeto em 1985.
Foram dez cidades envolvidas no torneio:
- Cidade do México (Estádio Azteca e Olímpico Universitário)
- Guadalajara (Estádio Jalisco)
- Puebla (Estádio Cuauhtémoc)
- Querétaro (Estádio La Corregidora)
- Monterrey (Estádio Universitário e Estádio Tecnologico)
- León (Estádio Nou Camp)
- Nezahualcoyotl (Estádio Neza 86)
- Irapuato (Estádio Sergio León Chávez)
- Zapopan (Estádio Tres de Marzo)
- Toluca (Estádio La Bombonera)
Fase de grupos
Contando com 24 países da disputa, a fase de grupos da Copa de 86 foi feita da seguinte maneira: seis grupos de quatro times cada, onde os quatro melhores terceiros colocados avançariam.
Vale lembrar que na época cada vitória valia por dois pontos, e não três como nos dias atuais.
GRUPO A
Equipe | Pontos | Vitórias | Empates | Derrotas |
Argentina | 5 | 2 | 1 | 0 |
Itália | 4 | 1 | 2 | 0 |
Bulgária | 2 | 0 | 2 | 1 |
Coréia do Sul | 1 | 0 | 1 | 2 |
O primeiro grupo da Copa teve como destaque o atacante italiano Alessandro Altobelli, que marcou quatro dos cinco gols de seu país. A Argentina não teve dificuldades e confirmou o primeiro lugar por um ponto.
Esse grupo contou com o primeiro jogo da Copa: Bulgária x Itália para 96.000 pessoas no Estádio Azteca.
GRUPO B
Equipe | Pontos | Vitórias | Empates | Derrotas |
México | 5 | 2 | 1 | 0 |
Paraguai | 4 | 1 | 2 | 0 |
Bélgica | 3 | 1 | 1 | 1 |
Iraque | 0 | 0 | 0 | 3 |
No grupo dos anfitriões, recordes históricos de público foram alcançados: em suas partidas, o México teve 110, 114 e 103 mil espectadores contra Bélgica, Paraguai e Iraque, respectivamente. A equipe teve sucesso, venceu o primeiro e o último e classificou-se em primeiro.
GRUPO C
Equipe | Pontos | Vitórias | Empates | Derrotas |
União Soviética | 5 | 2 | 1 | 0 |
França | 5 | 2 | 1 | 0 |
Hungria | 2 | 1 | 0 | 2 |
Canadá | 0 | 0 | 0 | 0 |
Com duas seleções muito superiores às outras duas, o grupo C foi de muita facilidade por parte da União Soviética e da França. O time do leste europeu terminou a primeira fase com nove gols marcados, média de três por jogo.
GRUPO D
Equipe | Pontos | Vitórias | Empates | Derrotas |
Brasil | 6 | 3 | 0 | 0 |
Espanha | 4 | 2 | 0 | 1 |
Irlanda do Norte | 1 | 0 | 1 | 0 |
Argélia | 1 | 0 | 1 | 0 |
Com alta expectativa devido à última conquista ter sido justamente no México, o Brasil foi um time de gala na primeira fase da Copa, mas não fez jus à sua principal característica ofensiva, saindo com cinco gols marcados e nenhum gol sofrido.
GRUPO E
Equipe | Pontos | Vitórias | Empates | Derrotas |
Dinamarca | 6 | 3 | 0 | 0 |
Alemanha Ocidental | 3 | 1 | 1 | 1 |
Uruguai | 2 | 0 | 2 | 1 |
Escócia | 1 | 0 | 1 | 2 |
Na época da Dinamáquina, o time do artilheiro Elkjær Larsen não teve dificuldades na primeira fase, aplicando nove gols e sofrendo apenas um, que foi na goleada de 6 a 1 contra o Uruguai.
GRUPO F
Equipe | Pontos | Vitórias | Empates | Derrotas |
Marrocos | 4 | 1 | 2 | 0 |
Inglaterra | 3 | 1 | 1 | 1 |
Polônia | 3 | 1 | 1 | 1 |
Portugal | 2 | 1 | 0 | 2 |
Surpreendendo a todos, o time de Marrocos não estava com altas expectativas chegando à última rodada. Havia empatado sem gols com Polônia e Inglaterra nas primeiras rodadas, mas abriu logo 3 a 0 em Portugal e até sofreu um gol, mas classificou-se em primeiro.
Oitavas de final
Passando como melhores terceiros colocados, Bélgica, Polônia, Bulgária e Uruguai teriam nova vida na Copa e mais chances de surpreender os grandes.
México | 2-0 | Bulgária |
Marrocos | 0-1 | Alemanha Ociental |
Itália | 0-2 | França |
Brasil | 4-0 | Polônia |
Argentina | 1-0 | Uruguai |
Inglaterra | 3-0 | Paraguai |
Dinamarca | 1-5 | Espanha |
União Soviética | 3-4 | Bélgica |
Enquanto os favoritos México, Brasil, Argentina e Inglaterra tiveram jogos tranquilos e vida fácil, os demais postulantes não partilharam da mesma sorte.
Alemanha e Marrocos fizeram uma partida muito igual, mas que acabou com gol de Lottar Matthäus aos 43' do segundo tempo, fechando o placar. A Bélgica também surpreendeu após empatar em 2 a 2 no tempo normal com a União Soviética e marcar duas vezes na prorrogação.
Mas a maior surpresa ficou mesmo por conta da Dinamarca. O time que perdeu por 5 a 1 para a Espanha é até hoje lembrado como Dinamáquina, e poucos sabem que isso refere-se a uma equipe que perdeu nas oitavas de final da Copa do Mundo.
Quartas de final
México | (1)0-0(4) | Alemanha Ocidental |
França | (4)1-1(3) | Brasil |
Argentina | 2-1 | Inglaterra |
Espanha | (4)1-1(5) | Bélgica |
As quartas de final da Copa de 86 entraram para a história: foram três partidas definidas nas penalidades máximas, e a única que foi decidida no tempo normal entrou para a história por dois gols antológicos de Diego Armando Maradona.
No primeiro de todos os jogos, Brasil e França empataram com gols de Careca e Platini. Nas cobranças de pênalti, o craque Sócrates perdeu o primeiro e Júlio César errou o último, classificando a França.
Já a Alemanha não teve dificuldades na marca da cal: acertou os quatro gols enquanto o time da casa apenas um, despedindo-se da Copa em frente a 41 mil pessoas em Monterrey.
A Espanha também quase sobreviveu: empatou o jogo aos 40' do segundo tempo e levou tudo para os pênaltis. Eloy Oyala errou a quarta cobrança e a Bélgica avançou.
A lenda de Maradona: gols históricos contra a Inglaterra
O jogo mais marcante da Copa de 86 foi definitivamente o de Argentina e Inglaterra. Os ingleses tinham o artilheiro Gary Lineker e os argentinos tinham o legendário Maradona.
A primeira etapa terminou empatada, e no segundo tempo, Diego voltou com tudo. Com seis minutos no relógio, ele subiu mais alto que o goleiro e tocou para o fundo da rede, no gol conhecido mundialmente como La Mano de Diós, onde ergueu o braço para desviar a bola.
Quatro minutos depois, uma pintura: Maradona recebe pouco atrás do meio de campo e dribla todo o time da Inglaterra. Hoddle, Reid, Sansom, Butcher, Fenwick e inclusive o goleiro Shilton antes de empurrar para o gol, no tento mais bonito da história dos Mundiais.
Ao final da partida, os ingleses pressionaram e Lineker marcou seu sexto gol no torneio, não conseguindo evitar a derrota e desclassificação inglesa, vinte anos após seu primeiro e único título de Mundial.
Semifinais
França | 0-2 | Alemanha Ocidental |
Argentina | 2-0 | Bélgica |
Antes demonstrando naturalidade e resistência às grandes seleções, França e Bélgica não conseguiram desenvolver seu bom futebol e acabaram sucumbindo facilmente à Alemanha Ocidental e Argentina.
Maradona e outro gol antológico contra a Bélgica
A lenda argentina seguiu o roteiro da partida anterior e voltou para o segundo tempo marcando aos 6', em um gol de centroavante, batendo de primeira. No segundo, driblou quatro marcadores da Bélgica e bateu cruzado para classificar seu time à final.
Final
Decisão de terceiro lugar | ||
França | 4-2 | Bélgica |
Final | ||
Argentina | 3-2 | Alemanha Ocidental |
Arbitrada pelo brasileiro Romuado Arppi Filho, a grande decisão da Copa do Mundo de 1986 foi recheada de gols. No primeiro, uma falta lateral cobrada na área teve o goleiro Schumacher saindo muito mal do gol. A bola chegou na cabeça de Brown, que abriu o placar.
Jogando com muita calma contra a forte marcação alemã, Maradona tocou a bola e fez o time pensar. Desta maneira, em um contra ataque, a bola chegou até Valdano, que tocou na saída do goleiro e aumentou a vantagem no começo do segundo tempo.
Focando na marcação de Maradona, Lottar Matthäus não tinha espaço para jogar com liberdade, e quem percebeu isso foi o técnico Franz Beckenbauer, que colocou Foster em campo e liberou o volante. No lance seguinte, um escanteio resulta no gol de Rummenigge, sozinho na pequena área argentina.
Apesar dos pedidos de calma de Maradona, era impossível segurar o nervosismo, e em outro escanteio, a Alemanha chega ao gol de empate com Voeller.
Mais livre na partida, Diego aproveitou o seu único momento de liberdade e lançou Burruchaga. Seu passe genial deixou o atacante na cara do gol, onde ele deslocou o goleiro e marcou o gol do título. Maradona, craque da Copa, ergueu a taça e celebrou o segundo título argentino na história dos Mundiais.